O meu personagem não tem nada que lhe acrescente. Não é um tolo, nem tampouco vingativo. Sabe de algumas coisas que qualquer um outro com sangue correndo nas veias saberia. Ele vive, apenas.
Não há nele qualquer palpitar esplendoroso ou sagrado e nem tantas lembranças para sorrir ou almejar novos horizontes.
Esse ser de quem ouso falar com propriedade(milagre por acidente), é fruta seca e coração (músculo) madurinho quase apodrecido. Sem choro ritmado ou qualquer tristezinha para reclamar da vida e de seu Deus, como lhe ensinaram.
Me apropriei dele...
Projeto-me nele e ele procura repouso em meu colo sem carinho e ainda consegue se afogar na falta de compaixão que carrego em minhas mãos.
Sua falta de maldade é uma afronta escondida por mim quando não há meios de fugir de certas cartas e quando[quase sempre] faço coisas erradas e coloco-as entre parenteses. O ser em questão é escorregadio e não tem o rebolado da cor do samba.
É um aborto solto que não é infeliz de todo.
Tem um pouco de dinheiro na carteira e um bolso furado. Escuta a própria voz orando mecanicamnte pela manhã e à noite, antes de dormir. Reza mesmo sem saber se o que sente enquanto o faz é mesmo fé.
É um homem por dentro de uma mulher submersa na epiderme de um outro homem escondido num rosto de mulher, mas no fim das contas é só ser humano e entre as pernas é assexuado.
É dispensável tal qual unha encravada.
Substituível sim!
O meu personagem, que na verdade não é mais meu, não é digno de pena ou piedade. Não é bom nem mau. Não faz bem nem mal. Não faz dívidas. Não tira dúvidas.
É auto-corrosivo.
Ele não é completo(e não é incompleto).
É solto.
Parece usar vestido esvoaçante.
É virgem. É oco.
Ralo: de corpo e alma.
Um Rascunho que Deus deu pernas, braços e olhos...órgãos também.
É esboço de gente por terminar
( Desenho e Texto por: Livia Queiroz)