domingo, 21 de setembro de 2014

_simetrias_

(...) que po­­deria eu – logo eu – dizer à seu respeito? Não que eu não saiba, mas é que às vezes não me recordo das palavras que passam saltando diante do percurso inevitável dos olhos que carrego.
É como nas histórias de suspense: o sujeito ouve um barulho detrás da porta e, ao invés de correr, decide ficar e descobrir. E você tem sido o meu barulho... meu pânico regado à curiosidade.

Quantas horas à mais são necessárias viver para seguir ou perseguir aquilo em que se acredita? Talvez a vida toda... É que eu acredito em você e meu pânico acredita em seu barulho.

Acreditar não é a maneira mais fácil, e sim a mais intrigante, penso eu, porque é a coisa do “abrir a mão” e estendê-la, não como mero apoio, mas como uma doação. Acreditar indica disponibilidade. É isso! E se de um lado existem mãos disponíveis, imagino que pode deitar-se (se quiser) sobre elas fazendo com que pareçam estruturas, alicerces talvez...

Ainda sobre você, é complicado falar. Até gostaria, mas não é uma abordagem tão parca assim e, além disso, o que consigo traduzir em palavras são as informações mais simples. Saberia por exemplo responder a uma ficha cadastral com dados básicos a seu respeito. O restante é complexo demais para ser escrito ou descrito. É que há em você um poder diferente: um dialeto só seu cuja tradução é impossível de se fazer. Entendo parte dele, mas não há meios de transcrevê-lo. Até tento, dou uns passos pra trás para enxergar melhor e vejo... vejo mais do que gostaria... processo todas as informações, decodifico-as e aí rio tranquilamente, guardo o papel e a caneta, sem ira nem frustrações.
Você não nasceu para ser escrita.

E só nós duas sabemos do barulho atrás da porta!


Por: Livia Queiroz

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Rio novo

É como abrir inocentemente um frasco de perfume... Nesse momento não há ordem a se dar, o cheiro há de se espalhar.

E assim deve ser o fluir de almas: livre!
Pro meu ser não há muros ou cancelas,
minha caminhada é suave, mas é de um corpo só.
Não há novos espaços para outros esboços, há somente um cheiro, um frasco.

A liberdade é autoexplicativa, portanto não carece de fórmulas, pedidos ou lágrimas.

É apenas questão de coragem!

Por: Livia Queiroz

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Sobre nosso tempo

Era o meio da madrugada e estávamos exatamente onde devíamos estar.
Todas as coisas, absolutamente todas, eram favoráveis, desde o seu toque à minha permissão para que meu corpo fosse desvendado.

Íamos cumprindo com sutileza e maestria a necessidade que o desejo trazia
Íamos seguindo à risca as regras do jogo nosso sem regras
E então seguia sua boca a caçar a minha lentamente
E iam minhas mãos acolher suavemente seus pensamentos

Os cheiros  do que era vontade nossa impregnavam em tudo
E a imensidão do céu sorria sem dificuldade cheio de estrelas,
E todo o céu de sua boca era também o céu da minha
Todo delírio seu chegava sussurrado a meus ouvidos e eriçavam-me os pelos

Por fim, era o seu eu a adentrar no meu fazendo com que – como num frenesi – por alguns momentos eu não soubesse mais onde você terminava e eu me iniciava.

Estava feita a mistura. Estava realizada a façanha:
Era a força do que me doava e a vontade de que desse certo.
Era a paz reinando e a vontade de estar pelo tempo que fosse, com o tempo parado.



Por: Livia Queiroz

sexta-feira, 7 de março de 2014

Cale a Boca!


Pra início de conversa me respeite, porque eu não nasci da costela de ninguém!!!

Não nasci pra lavar tuas louças muito menos tuas cuecas e se eu o fizer é por amor e prazer, nunca, jamais por obrigação.

Me respeite que eu não preciso de seu cartão de crédito pra ser feliz.
Me respeite que não preciso casar e ter seus filhos para ser completa, só o faço se eu desejar.

Respeite a minha bunda! O meu quadril inteiro, aliás, que ele não é antro de sua perdição.  Respeite a minha vagina que ela não é berço pra teus gozos fora de hora. Respeite meu corpo!

Me respeite nos teus comerciais automobilísticos. Me respeite no teu apelo de bebidas e farras. Não me pendure como objeto. Não me coloque de calcinha e sutiã num outdoor para que eu venda teus saltos.

Antes de vir me parabenizar pelo meu dia me respeite pelo que eu sou e não pelo pedaço de carne que você  vê!

Me respeite pelo que já lutei, e pela luta diária que enfrento. Respeite as roupas que gosto de usar e que não definem meu caráter nem meu desejo sexual. Respeite meu desejo sexual e a falta dele, por que eu não estou à sua disposição.

Respeite o cabelo que eu quiser usar. Respeite o fato de eu me sentir bem sendo eu. Me respeite nas suas capas de revista, nas suas passarelas, nas suas vitrines. Respeite o respeito a que me dou.

Me respeite nas suas piadas, nas suas gírias e nas suas frases feitas. Me respeite nas letras de suas músicas.
Respeite, porque eu não sou mais uma! Nem dessas que aceitam elogio num dia e cacete no outro. Eu não esqueço!

Me respeite, porque eu sei saber o que eu quero. Porque eu sei pensar sozinha. Porque não preciso de destaque por compensação, só preciso estar no meu lugar, o que é meu por direito conquistado. Porque não quero enfrentar ninguém, nem medir força.

Me respeite pela minha competência porque eu não preciso de teste de sofá.

Não venha dizer que sou especial só por um dia.
Não venha dizer que o mundo precisa de minha sensibilidade.
Não faça comparações ridículas entre mim e as flores dos jardins que nem conhece.

Pra início de conversa, antes de me parabenizar pelo que quer que seja, cale a boca e me respeite!


Por: Livia Queiroz


segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Bora" ali, crescer!


Há muita dor pelo mundo inteiro. Há fome, frio, sede, violência, amores roubados, amores perdidos... Há muito do que se queixar, há muito do que se amargurar. Mas o bom da vida é ter o dia seguinte pra levantar a cabeça.

De tudo que tenho lido, tenho notado uma reclamação imperar: a ilusão.
Me pergunto o que seria a ilusão...
À seu modo, cada um define e sente como pode e isso dá até uma certa beleza ao sentimento, mas no fundo, nas partes mais internas do ego, se autoafirmar um iludido é assinar um atestado de incompetência na relação findada, aceitar a posição de coitado e usar uma coleira de vítima-abusada-ferida e sem perspectivas.  

Definir-se iludido (a) por alguém é dizer que é panaca mesmo, sem cerimônia. É admitir que alguém fez promessas e não cumpriu e você não foi adulto o suficiente pra encarar a frustração sem dar showzinho de criança que quer brinquedo que não pode.

A ilusão fica até bonita na história, se a história em questão for um conto de fadas cujo príncipe vai sempre aparecer no final e o “felizes para sempre” vai definir todos os dias seguintes. Mas pode crer, na vida real isso seria um saco!

Quem se deixa iludir o faz porque quer ego alimentado por promessas tolas, no fundo conhecemos o nosso canalha interior e reconhecemos o do outro também, o problema é querer ser Cristo quando as vestes combinam mais com as de Judas.

Vamos então pagar de humanos que somos e acertar nossas contas de forma justa, sem denegrir o outro na lama de nossos desejos não atendidos. Vamos aprender a suportar com destreza nossas dores e encarar nossas carnificinas com dignidade.

Ilusão é pra quem não entende que ao entrar na chuva mesmo com capa, algumas gotinhas hão de molhar...
 
Por: Livia Queiroz