domingo, 23 de setembro de 2012

En-Caderno


Ele, o sacro. O Sábio-Branco. De um branco amarelado que não é lacuna, nem ‘em branco’ e sim respiração suspensa como a que guardo nos dias em que os meios não justificam os fins. Ele: O guardador, o contentor do que não digo (e não digo o quê).
 
Ele, em sua sabedoria muda lança à minha cara milhões de verdades e mentiras e pede
explicações, emite sugestões. Incute pensamento. Exige movimento. E devolve o
que lhe digo, sempre em dobro (de dimensões e peso).
 
Outro dia me peguei em saia justa conversando com ele sobre uma insatisfação minha:
 
" – Pois, e não sabes que as pessoas mudam?  
– Sei!     
– Não sabes o que a distância faz com elas?    
– Sei – respondi – mas eu pensei que poderia ser diferente.           
– Não é! 
– É complicado.    
– Não é.   
– O que é então?  
– É simples: Quem se importa há de cuidar do que existe!”          

 

Calei.
 Ele possui a aspereza exata. A que não bane, mas a que ressalta a lógica.
 
 
"Sabe de uma coisa? Não deves cometer a tolice de acreditar em tudo o que lhe dizem. Pés  foram feitos para estar no chão. Assim como promessas cheias de cor são feitas só porque serão quebradas. Não é culpa das promessas. A culpa é das cores!"

 
Emudeço. E não há nada ainda posto sobre ele. Não há nada demais.
 Ele é como um cômodo vazio que pensa cheio...
 
"Depois de tanto tempo a ausência se torna presença constante (um paradoxo não?) e aí fica muito parecida com uma filha da vizinha que de tão próxima já vira melhor amiga sem precisar de conquista, já é parte da casa e até parece combinar com a mobília. Não é da família, nem da casa, mas é como se fosse. A ausência, com o tempo fica assim e para melhor suportá-la, a apelidamos de não-presença que é pra ver se dói menos. Pedimos ao destino, aos amigos, ao espelho pra ‘deixa pra lá’ que é pra ver se faz menos efeito. E depois – aos poucos – não é que vai mesmo doendo menos?"

 
 Ele é cheio de degraus, possui etapas e conhecê-lo exige um procedimento. Há uma raridade em sua postura: a transparência. E há ainda a inocência e a serenidade que ficam pelas bordas... Ele é inevitavelmente um amigo silencioso
 
"Vão passar pela vida tantas pessoas boas, tantas ruins. Mas isso de ser bom ou ruim é relativo. O regular mesmo é ser imparcial, mas acaba sendo melhor ser justo. Se não quiser o bem também não queira o mal. Fique fria. Permaneça fina. Fique lúdica. Posta à prova e sempre pronta. O bom mesmo é não exigir, por que cansa e além disso o que está pra ser sempre é, sem regras impostas e sim intrínsecas."
 
 
 
Eu não me atrevo a argumentar e chego a questionar se são devaneios essas coisas que percebo dele, mas tão acurácicas que são, me recuso a impor limites e travas nesse linguajar de poesia e cuidado.

“Há um motivo pra tudo. Ou vários. Optar por esse ou aquele destino não tem a ver com escolhas, mas sim com necessidade. O melhor é saber por onde começar e já que um caminho pode ter várias entradas e saídas o ideal é levar consigo um mapa. E saber quando é a hora de partir. Partir dói quando há raízes, mas é necessário completar o dinamismo da vida. Renovar as energias. Modificar. Compartilhar.”

Eu sei de uma coisa: ele possui uma vantagem sobre mim... Se ele se perguntar "quem sou eu?" terá por certo uma resposta. Quanto a mim, viraria partículas de rebarbas antes de repetir a pergunta só para não respondê-la.

Acho que ele é um sábio refúgio, um modelo do que não consigo seguir. Algumas coisas melhorariam-me por certo. Eu não quero manchar um papel com essas coisas que sinto, prefiro ouvir dele, que em branco, me comove enchendo meus olhos de lágrimas e invocando minha serenidade.

“Sabe, ela vai fazer muita falta. Você vai sentir o coração apertar, depois pesar, depois doer. Talvez um dia passe. Mas enquanto não passa o melhor mesmo é você conseguir conviver com a sensação doída. Afinal, o melhor é deixar que nasçam por si só as borboletas. Arrebentar casulos é um atentado contra a ordem natural das coisas, e a ordem natural diz que pra se fazer sarar há de se fazer doer.  Pois então, deixe ir, deixe passar, não se entreponha entre o ‘que já foi e e não é mais’. Vamos lá, supere! Get Over! Cabeça erguida e deixe de drama que o mundo é único demais pras seus apelos.”