domingo, 28 de agosto de 2011

Epílogo nº 04 - Discrepâncias


O perigo de um discurso falso ser repetido tantas e tantas vezes é que seu dono passe crer e a depender dele e , pior, enovelar outros muitos nesse emaranhado esdrúxulo.
Por fim há de enlouquecer esse sujeito quando notar
a contradição grotesca entre o que diz e o que de fato é.
É preciso tomar cuidado.
Distorções podem tornar ocas as almas...


(Por: Livia Queiroz)

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Desca(n)so do Menino Poeta


O poeta de dentro anda cansado, sofrido, moribundo da vida e tudo, absolutamente tudo nele dói...
O poeta de dentro de casa tenta suportar angústia praticando-a em versos.
O poeta de dentro sente os ossos doerem, o corpo queimar e a respiração esvair-se.
O poeta vai sufocando-se de si mesmo, e ele sabe que às vezes precisa de um pouco de tristeza para dar a cor de um ou outro poema, mas ele é ainda tão menino pra entender disso tudo.
Ele, de certo, que pensa em trocar qualquer poema pra que essa dor se vá  de uma vez, porque, deitadinho no chão, ele vai se encolhendo, cheio de rima, e se apagando aos poucos.
O poeta de cá de dentro, anda esguio, doente, em estado de amarelidão, e há de deixar-se quebrar.
Ele é ainda só um menino cujo tempo lhe foi inimigo. É tão menino ainda que não separa, não mensura, não opta, não regula, não controla.
O poeta menino há de se estirar por uns tempos sob a terra, para um despertar adulto e compatível com as suas dores.
(Por: Livia Queiroz)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Epílogo nº 03




Declame sua partida,
em alto e bom som.

O resto - o rasgar de páginas -
deixe por minha conta!

Poesia tem essa coisa sofrida...
Um charme
Partidas tem alguma coisa poética...
O Fim.




Por: Livia Queiroz

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ir-se

Destrancar as portas
Deixar que os ventos
rabisquem um novo destino
Tirar a lama do calçado
Repintar os porões
Reinventar novidades
Ir para o outro lado
sem saber o que há
Aparar as rebarbas
Retrabalhar o antigo papel
Reinventar tópicos
Retocar a maquiagem
e levantar bela, doce
pronta, apta, viva.
Ir-me
Não importa o quanto pareça doer...
Que doa!
Meu amor doa!



(Por: Livia Queiroz)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

As de Ouro

As de Ouro do poeta que jogou com tudo o que tinha e de volta guardou apenas o gosto amargo do que se arrependera tão tarde:


Era a última carta...
E havia uma poesia ainda não escrita relacionada á coisa alguma...
Por inteiro mesmo, havia só o destino que lhe embaralhava a sorte.
De certo que passaram por ali palavras arredias, dessas que não se permitem a captura...
Vai entender...

- Mas não se enganem, meus caros - sussurrou o pobre homem - Essa coisa de poesia completa, tal qual amor repleto, não existe!!




P.S.: Perdoe-me...Há desesperença nisso que hoje escrevo.



Por: Livia Queiroz

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tragando Devaneios...

Rolo na cama, olho pro teto, paredes, conto e reconto os livros da prateleira descubro novecentos e noventa e nove defeitos, uma saudade e uma decepção.

Colas de amor já não surtem mais efeito, o remendo fica mal feito, feioso, sem acabamento. Depois olho rapidamente no espelho, brinco com as olheiras fundas oriundas das noites de clarão e por um instante chego a pensar que, se foi tudo em vão, então não vale à pena arriscar as mesmas coisas todas às vezes.

Do outro lado, há quem tente refazer, reatar, relembrar quão especial a vida tem sido... Quão generoso tem se mostrado o amor, mas de que adianta? Do outro lado há alguém que necessita de explicações, alguém que quer saber o que houve com os muros em volta de “nosso forte”.

E eu não sei explicar nada. Por mais palavras que possam existir, por mais poesias que possam dar o toque cintilante... Ainda assim eu não sei usar os motivos plausíveis... Trago meus devaneios e em baforadas arrítmicas e agoniadas solto os medos, e, sobretudo as dúvidas. Vão se queimando as possibilidades dos sonhos na outra ponta... Não consigo tragar o inverso.

Deus olha lá do alto desolado talvez... Desculpe-me, não é falta de fé, é falta de forças. E sim, talvez eu seja mesmo complicada como no sonho e talvez eu sinta a necessidade de dormir para sempre exatamente como no sonho e talvez eu não seja mais a pessoa ideal, e talvez meu espírito tenha se esvaziado por ora na tentativa de enxergar por outro ângulo...

Acendo outro, para tragar o fim de papo. É tudo muito inocente, e deveras singelo, embora sombrio e impróprio, um paradoxo difícil de segurar no trago. Trato de aparar as cinzas que justificam apenas as bobagens. De resto, me sobra um quarto com e sem fumaça.



Por: Livia Queiroz

P.S.: Só fumo metáforas.


Ideia de Título sugerida por Karolzão: TRAGRANDO SAUDADES (Vou guardar esse título pra um outro poema Lol)



domingo, 7 de agosto de 2011

Epílogo nº 02

Na nossa cama meu amor, espalham-se roseiras, moram todas as mais raras flores. Deita-se o desejo e derrete-se toda a gramática proibida.

No nosso quarto, Amor meu, decoramos as paredes em tons chamativos de felicidade e o chão é varrido para o amor se deitar sem a pressa dos relógios.

Na nossa casa, meu grande amor, repetem-se singelos os dias de rotina sem rótulos. Acordam ligeiros antes de nós, os minutos ansiosos para testemunhar o nosso Simples.

Nessa cidade, doce amor, as canções feitas nos decoram as extremidades do corpo. Os poemas declamados selam isso tudo. E o Sol se pondo, grita sua inspiração em raios que a Lua, por não ter brilho próprio, apenas aprecia.

Eis o nosso espetáculo de camas, quartos, cômodos, incômodos e beijos.

Eis o nosso resumo de vida toda: noite e lençóis...


(Por: Livia Queiroz)