sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Ascendente Câncer ( Parte 4 )

Os dias foram se passando, o tempo tratou de correr bem na medida do possível... E tudo que tinha de acontecer, aconteceu, afinal vidas não param pelas dores dos outros.
Apesar dos medos, da incerteza e das limitações que a doença impusera à Lara, ela vivia como dava, e não parava de fazer todas as coisas de que gostava. Tinha tempo pra tudo, menos pra depressão e tinha decidido: “Não vou – nem sob decreto – passar meus últimos meses em cima de uma cama, deprimida, brigando com Deus e resmungando da falta de sorte enquanto o tempo acaba.” E assim fizera. Não parou de estudar e nem de trabalhar, só dava trégua quando se sentia mal. E a diversão, era ímpar...
Às vezes pensava em Natália, mas quando o fazia, parecia-lhe estranha a sensação já que se obrigara a “deixar pra lá”.

Voltou para a terapia com Dr. Ricardo, que a acompanhara já há alguns anos. Não queria mais conselhos de como aceitar o seu veredicto, tampouco receitas de como aproveitar a vida. Só ia mesmo porque se sentia bem, e além do mais Ricardo havia se tornado um grande amigo. Em uma das vezes chegou a comentar sobre a sua necessidade de dizer um “adeus” ainda que disfarçado a Natália e quem sabe, se desse sorte, ganharia um abraço:

- Porque não liga pra ela e conta a verdade?
- Não quero que ela saiba. Só queria abraçá-la. Despedir-me decentemente. – respondeu Lara escondendo as lágrimas que teimavam em se fazerem notar.
- Não acha justo que ela saiba o motivo do “Adeus”?
- Não. Ela tem outra vida. Não vou estragar nada.
- Você é quem sabe... Mas se eu fosse você eu a procuraria. – disse o psicólogo com um tom encorajador na voz.
- Eu já a procurei, mas não é tão simples assim. Ela não quer nem falar comigo e com razão!
- Por quê?
- Porque a magoei. Falei umas coisas ruins quando eu tava chateada e...
- Ainda bem que você falou essas coisas quando estava chateada, né? – tornou Ricardo rindo – Pior seria se tivesse falado coisas ruins ‘numa boa’. Sem nem sentir pelas palavras ofensivas.
- Ah... – Suspirou Lara em meio às lágrimas – eu sinto. Eu sinto tanto... Se eu pudesse voltaria atrás mesmo, só que não posso e não sei nem como reparar isso, até porque a própria Natália me disse que não havia jeito.
- Larinha, – disse com doçura – não existe erro, em vida, que não possa ser reparado. Ela pode não querer saber a respeito agora, mas um dia ela vai entender e vai ver quanto tempo perdeu remoendo acontecimentos ruins. Eu lamento muito por sua saúde, mas alegro-me em ver que você não se deixou abater e nem caiu em desespero...
- De que ia adiantar? Todos vão mesmo. De uma forma ou de outra. – disse ensaiando um sorriso.
- Eu quero que pense bem. E se acha que vai valer à pena, procure-a. Porque você merece esse presente.


Por: Livia Queiroz


( CONTINUA)