segunda-feira, 1 de março de 2010

SOPHIA

“Mal sabes tu o quão difícil é reluzir sob o breu noturno com a sombra celeste a testar toda a fé.”


Assobiam de manhã as andorinhas, as cotovias, e mais todos os pássaros do céu anunciando o igual da mesmice.

Somente Sophia destaca o dia terreno como algo fora do comum. Nada nela é forçado, nada é postiço.

O seu olhar me toma como que um redemoinho correndo para dentro de minha alma. Adoeço.

Dizem ser moça virgem. De fato, não sei, só sei que me causa sacolejos.

Seu andar é de quem flutua sobre os próprios pés e o vestido, sempre velho, sempre o mesmo, é constantemente segurado por conta do vento.

As mãos de Sophia são morenas, da cor que o sol deixou, e sublinham o meu mundo e há quem diga que ao vê-la pareço um tolo. Bobagem!

Sophia é prosa, é música lenta a amansar o espírito. Não me nega um cumprimento ainda que sem olhar-me a fundo.

Ela foi traçada em rima, esculpida pelo lado poeta de Deus e por dentro é aço e melodia, por fora é pele de gente e o seu cheiro arrebata qualquer humor com um laço certeiro.

Flor que desabrocha sem ter calma, e com maestria em qualquer estação. É a minha única certeza de fé, traz-me implosões repentinas sua existência posta por Deus ao meu alcance.

Sophia é deusa que não liga por ser mortal. É claridade generosa que não liga se é noite para poder brilhar.


(POR: LIVIA QUEIROZ)