As coisas não iam bem, e Lara piorava à cada dia. Voltara mais duas vezes ao hospital.
Os vômitos eram muito mais intensos, as dores de cabeça constantes e Lara passara a apresentar grande dificuldade para segurar os objetos, perdeu e muito a sensibilidade no tato, além de quase não levantar da cama.
Mas mesmo com toda a gravidade da situação Lara não se deixara abater, e mais, não deixava de orar, de agradecer a Deus por todas as coisas maravilhosas que vivera até ali.
- Como se sente? – era Silvia adentrando no quarto e abrindo a janela para o sol iluminar melhor o ambiente. Lara havia acabado de acordar, mas matinha os olhos fechados. Era cedo ainda.
- Bem. – disse com certo receio. Ainda de olhos fechados. – Que horas são?
- Sete e meia. Pensei que poderíamos caminhar um pouco na praia, tomar água de coco. Se você estiver se sentindo disposta, claro.
Lara abriu os olhos, mas ficou em silêncio. A respiração começou a ficar descompassada fazendo com que ela se sentasse na cama e chorasse copiosamente. Silvia assustada com a que via, puxou Lara para si e abraçou-a, achando que Lara tivesse acordado de um sonho ruim, ou tivesse feito ou recebido uma ligação desagradável de Natália.
- Calma Larinha, calma. – dizia enquanto embalava Lara na tentativa de acalentá-la. – Você ta se sentindo mal?
Com muito esforço Lara foi se acalmando e conseguiu, em meio a soluços, sussurrar:
- Eu... Eu... Eu não to enxergando. Tá tudo escuro. Eu to cega
Parecia que um buraco negro abriu-se sob os pés das duas. Silvia procurou manter a calma, afinal precisava apoiar Lara.
- Vou ligar pra Dra. Lucia. – disse pegando o telefone, enquanto observava Lara com o olhar perdido e inundado.
Em poucos minutos Lucia já estava a examinar Lara:
- Lara, nós sabíamos que isso podia acontecer.
- Vou ficar cega então? É isso?
- Por ora só posso te dizer que sim. Quero que vá às onze no meu consultório para fazermos uns exames. Tudo bem?
Lara nada respondia, permanecia seria e calada, estava ainda digerindo aquilo.
- Estaremos lá. – respondeu Silvia.
Parecia que de uma vez só, toda a força e vitalidade de Lara desapareceram junto com a visão. O brilho morrera da noite pro dia. Os exames foram feitos e ficaram prontos confirmando que dali pra frente a vida de Lara seria no escuro. A dor invadiu a casa sem licença nem nada. A amargura de Lara a trancafiava dentro de sua própria alma.
Ricardo passara a visitar Larinha três vezes por semana e ajudava Silvia a agir de maneira a não ferir o pouco brio que lhe restava.
- A família dela já sabe? – indagou Ricardo.
- Há algum tempo atrás, liguei pra mãe dela e contei como ela estava, mas isso foi bem antes de o estado dela se agravar.
- E...
- Sem chance. D. Agnes não quer nem saber da filha.
- Então nós seremos a família dela.
POR: LIVIA QUEIROZ