quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Subliminar

Ela é uma poesia...
(Descobri isso sonhando)
Descobri isso porque o calor do abraço dela
O ritmo de voz dela, o cheiro dos cabelos dela
O riso, o jeito, o ato, e tudo o que não lhe é perfeito
tudo o que não lhe cai como uma luva
São também poesias...
São rumores a me encravar a garganta
São pedaços de pecados que não são eu e que não vejo
E ainda assim, confusos e melancólicos, são também poesias...
Ela não é poesia de amor, de medo, nem dor,
ela sequer é soneto, não é água morna, ou rasa, ou funda
Ela é traiçoeira,
Pior: é poesia de si mesma
Dessas que quando se desprende
contamina tudo e derrete o ego.
Ela é, toda por si só, uma poesia
É dessas que ladra, morde, mas assopra
É distância eminente de mim
É relevo em constante alteração.
Ela não é de nada mas tudo parece lhe contemplar.
Ela sequer existe mas me é intríseca e familiar.
Ela é diatômica e presunçosa
E me é poesia a todo instante insistente de horas.



Por: Livia Queiroz

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Calma.Ria

“E como não dizer que essa calmaria no peito são as mãos de Deus sobre a minha cabeça?” (ABREU, Caio Fernando)

E como não atentar para as mudanças? Não exaltar a felicidade? Como não refletir a máxima fidelidade da serenidade?

Penso eu, que cada dia vem cheio de ferramentas para dar início à burilação. E que cada nova oportunidade vem sublinhando com exatidão os vínculos entre labuta e perfeição. A vida ensaia com esmero cada passo para a lida com os dissabores, com os amores idos, com as partidas sem volta dos entes amados, com os presentes que não chegam e com os que chegam quebrados. Nada disso é tão simples, que não mereça um trabalho árduo e nem tão custoso que implique em desistência.

O que acontece entretanto, é que a possibilidade de não enxergar o que há do outro lado da rua tornam complicadas as investidas... E quando, o medo de atravessar é tão maior que a necessidade de fazê-lo os caminhos já conhecidos ficam turvos de repente.

Sorte que, para tanto, vem Deus e pousa sobre os corações aflitos ungüentos à base de todo amor que tem. Vem Deus e serena a alma, enternece o espírito e a calmaria se faz reinar novamente dentro do peito.

“Passou, meu Deus, passou!”, digo baixinho entre o “Obrigada” e o “Amém”

Por: Livia Queiroz
Citação: CAIO FERNANDO DE ABREU

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Explicitando (Sem Ecos)

Vou explicar como eu gosto!

Explicar nos pormenores para que não se façam necessárias releituras, reinvenções ou novas definições.

As minhas palavras, as que escolho e uso com o cuidado de quem toca em porcelana, não são armas e portanto não devem ferir, não precisam magoar e nem atingir alvo algum. Se a minha alma não se explode é graças à palavra que lava o caminho sujo ou embeleza a característica das flores. Eu escrevo porque senão eu sufoco. Implodo aos poucos até a morte. E à morte eu não me quero por enquanto.

Os pesos que eu carrego, as dores que não suporto, os medos, as vergonhas e arrependimentos fazem parte da minha composição aflita. Eu sigo na inquietude do elo mal firmado e aproveito uma ou outra coisa aqui e ali, misturando meus métodos aos meus fracassos.

A minha integridade, a minha dignidade, eu não preciso substituir por explicações nem gastar espaço visto que é o que julgo ser de menor importância falar até porque – penso eu – quem tem reconhece e quem não tem nunca entenderá.

Eu não me escondo. Mas, como um animal ferido, eu reajo à dor com brutalidade e esta é diretamente proporcional à intensidade do sofrimento. Depois que passa, olho os estragos e sigo em frente. Não preciso de conexões com o que não me agrega o que é positivo.

Eu não sou poeta. Por um lapso do ar que passa eu capto o que preciso naquele instante. Não sei nada sobre isso de aceitar tudo, de perdoar tudo, de superar tudo só por causa do amor, porque, caso não me falhe a memória, não seria o amor um bálsamo para todo o sofrimento? Então não é justo ter que conhecê-lo em formas distorcidas.

Eu quero as coisas corretas. Eu entrei e saí disso tudo com a mesma dignidade. E quando olho as marcas, penso que não passou de equívoco e que talvez, me faltou mais da razão. Os pensamentos não doem mais. Mudar de rumo é importante quando você sabe aonde quer chegar. Manter o foco, o equilíbrio, estreitar o raciocínio são estratégias que uso para que não pareçam tão árduas as experiências.

Isso não quer dizer que eu não tenha coração. Não quer dizer que a minha frieza anula meus sentimentos mais sublimes. E também não significa que eu me enxergue melhor do que quem quer que seja. O que quero explicitar é que pra mim não importam os motivos, não importam as razões, as confusões, as decepções, as armações, os momentos, as crises... Nada disso estabelece uma idéia plausível para reconstruir a necessidade de restabelecer qualquer tipo de contato.

O que em mim é mais do que gritante é o que bebo todos os dias quando acordo: doses exatas de amor próprio. E é isso que me mantem firme, é isso que acalenta meu coração que ainda remendado se confunde às vezes e não sabe se já passou a dor toda.

Mas é assim que gosto: quando estou caída eu me levanto só, porque se o tombo foi só meu, nada mais justo do que eu suportar o peso de meu próprio corpo.

E é assim que há de ser: um tempo meu inundado de prioridades e possibilidades; um espaço meu construído e estruturado para aceitar, manter e servir de abrigo apenas à pessoas que entendam a importância do conforto da alma, da paz interior, do acalento, do respeito... pessoas que entendam que o pó debaixo dos móveis em algum momento se acumula e se torna quase impossível não notar (é necessário entender da limpeza de mundo de dentro e de fora)... E pessoas que entendam acima de qualquer coisa que o caráter, a lealdade aos princípios, o zelo pelos sonhos e o amor vivido em verdade são alicerces para futuro algum botar defeito.


(Por: Livia Queiroz)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Epílogo nº 05

E a agonia era tão exacerbada dentro de mim, que ficou turva a minha noção de razão.
Cometi exageros e saí trincando nos calcanhares.
Eu era ali, minha outra parte, a que acabara de ser reorientada.
Cortei nós pelas pontas, começando de baixo pra cima, e o rasgar do peito alterava todo o ritmo do "sentir".
Eu era só um estado presente ampliado com lente de aumento para ser visto de dentro antes da "limpeza".
Acabou.
Estava tudo ali: cartas todas na mesa, uso e desuso das mesmas.
Tirei o pó dos pés. Pus mochila nas costas e fui embora de vez.
Sem risco, olhei pra trás, só para reafirmar o que eu ja sabia: Não me faria falta.
Eu não sei lidar com dor.
E o que eu sintia ali era a dor pela dor, como um amontoado de espinhos fazendo sufocar o tempo.
Passou.
Apanhei a mochila enchi de liberdade; recolhi meu amor na intenção de amansá-lo e burilá-lo; amassei as partes defeituosas; ergui os ombros e o estado de espírito.
Não há santo que me mude o rumo!


(Por: Livia Queiroz)

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Sincronizando

Eu acabo de ter uma idéia: Voltar o tempo!
Vamos pular todos os muros, no sentido inverso essa noite.
Vamos saltar os escombros com os quais construímos nossas vidas esses anos todos e, essa noite, vamos habitar o que é mesmo nosso.
Essa noite, deixa-me enxugar as lágrimas que te causei por não medir o peso das palavras e por não mensurar o que havia nos seus olhos-Lindos.
Deixaremos, essa noite, ser como já foi.
E eu sinto, hoje, o jeito do seu abraço e o cheiro dos seus cabelos. Exatamente como antes.
E amanhã, vais acordar no meu colo e ainda haverá tempo.
E do verso pra frente teremos todo tempo do mundo!!




(Por: Livia Queiroz)

sábado, 3 de setembro de 2011

Alvoroço

Hoje, isso que escrevo, é em tom elevado. Fazem-se necessários gritos para que só depois venha a calmaria, a minha calmaria.

E é assim que a gente segue: VIVENDO! E é assim que vamos descobrindo a diferença entre o cinza e o diamante através do pouco que também somos.

Há algum tempo atrás, pensei ter encontrado terra firme. Era areia movediça. Segui, quase que afundando, dias e dias e dias, até que, quando me vi quase que irremediavelmente perdida, surgiu o que alguns chamariam de “luz ao fim do túnel”.

O que acontece é tão simples. Vamos indo à toa e descuidados aí vem a vida e Puf aperta o botão e ejeta o que não deveria ser sonho nosso...

Olhei, por longos dias, pra o lado de fora de minha janela e as flores padeciam murchas, sem encanto qualquer, mas eis que surge o alvoroço. A razão contempla o ato, encerra o fato e ora, me liberto outra vez.

Sim! Sou livre, e não importa o que caia ao meu redor. E isso não é egoísmo, é sensatez. Eu não ceio com quem me cava precipícios. Não me rebelo contra os meus valores. Eis a minha intocável e sacrossanta liberdade!

Não há mais luz alguma em fim de túnel, o que há agora, é uma lacuna simples e útil ao futuro. Há também algumas sensações idiotas e um pouco de vergonha diante do que reflete em meus olhos. Vergonha por ter absorvido o que não era real e ter tornado realidade o que não seria justo comigo. (Se soar como egocentrismo, que seja! As regras são minhas...)

Sobre a minha mesa jazem algumas fotos rasgadas e uns objetos sem destino, tal qual o que outrora me foi dito ser sentimento. Estou em paz agora. E que me venham os recessos da alma, os feriados, festas e o melhor: o que julgo sem desatino, ser meu.



Por: Livia Queiroz