sexta-feira, 18 de maio de 2012

(In)cômodo

 É, eu falo sozinha!!! ¬¬


- E então?
- Então o que?
- Ela não te ama mais?
- Ama.
- E você, a ama também?
- Amo.
- E o que vai fazer?
- Escutar Caetano Veloso e tomar umas doses de whisky.
- Só?
- As ruas estão alagadas, o dia tá frio pra caralho. Tenho poucas opções.
- E ela? O que vai fazer em relação a ela?
- Nada! Ela sabia o caminho de volta. E decidiu seguir adiante, pois que siga!
- Simples assim?
- É. Simples assim.
- Mas você precisa procurar, fazer alguma coisa, argumentar...
- Shhhhh, silêncio. Não incomode minha serenidade.
- Mas e o amor?
- O amor passa.
- Mas e a saudade?
- Saudade acaba.
- Mas e os planos, os sonhos...
- Desfaz-se e refaz com quem valha a pena.
- Frieza essa sua!
- Ora, faça-me o favor... Ando cansada de pontes desgastadas, de argumentos frouxos, de falsos motivos, sentimentos interesseiros e por aí vai. Acha que vou me doer toda, me machucar toda por algo que já me acostumei? É assim e pronto!
- Ela não sofre?
- Diz que sim, mas tenho cá minhas dúvidas.
- Porque?
- Quando sinto uma dor tomo um remédio pra sarar. Quando não sara vou no médico. Faço cirurgia, dôo o órgão, arranco-o fora, o que for. Quero sarar. Pra o coração, pros sentimentos a lógica é a mesma. Se dói tenta fazer sarar, se não tiver jeito, arranca.
- É difícil?
- Depois de um tempo fica fácil.
- Porque?
- É como mudar de casa. No começo há uma resistência, há vinculos com a casa, lembranças. Você se muda e vive sentindo saudade da casa antiga. Depois de um tempo você começa a se acostumar com cada cômodo novo. E começa a ver beleza neles... Depois já encontra cores lindas pela vizinhança, depois pelo bairro. E por fim, esquece o endereço de sua antiga casa.
- E depois?
- Depois você começa a perceber que há a necessidade de rosas no seu jardim.


(Por: Livia Queiroz)