Lara já não mais falava em Natália. Havia aceitado a sua decisão desde que não fora recebida pela ex. Mesmo tendo Silvia tentado convencê-la de que fora verdade a suposta saída de Naty, Lara fora incisiva ao dizer:
- Tá na hora de eu me preocupar comigo. Fiz tudo o que pude!
Se por um lado Silvia se sentia aliviada por ver Larinha sofrer menos(aparentemente), por outro se preocupava e se entristecia com o que acontecera na ida ao apartamento de Natália. Lara, contara superficialmente, é verdade, mas pelo que ouviu, e pelo que Ricardo contou-lhe depois, ela sabia o quão magoada Larinha devia estar.
Lara estava tendo uma semana dificílima. As dores não mais paravam e ela foi internada mais uma vez. Passava o dia entre dores e cochilos. Emagreceu bastante, os olhos afundaram contornados por um arroxeado sombrio. E por conta das dores, delirava, se debatia, gritava. Quase nada mais parava no estômago. Quem conhecesse Lara de longa data, se assombraria com o estado da garota. Ela que sempre fora cheia de vida, estava agora uma caricatura de morte pra ninguém botar defeito.
- Vem cá. Deita aqui comigo. – pediu Lara baixinho.
- Aí? – assustou-se Silvia, com receio de deitar na maca junto à Lara.
- É. Vem. – pediu quase que sussurrando por conta da dor de cabeça.
- Tá. – Disse Silvia se acomodando com cuidado
- Você sabe que eu vou ter que ir embora né?
- Sei, mas Lara, não pense nisso...
- Penso sim. – interrompeu-a – E quero que você saiba que você foi a melhor pessoa que eu conheci em minha vida. E quero que saiba que eu também te amo. Que você foi a melhor companheira que eu poderia ter tido e que eu fui uma estúpida por não ter te dado o devido valor. Sortuda a mulher que cruzar seu caminho.
- Larinha, você me fez muito feliz! Eu sei que não me amou como mulher, mas foi minha amiga, minha companheira. E a melhor época da minha vida, sem dúvida começou depois que te conheci.
- Eu sinto ir embora assim. No meio do show – disse quase sorrindo e de olhos marejados. – E sinto também não estar agora olhando em seus olhos pra dizer tudo isso.
- Você está olhando em meus olhos! – disse Silvia deixando que uma lágrima caísse. Elas estavam deitadas de lado, uma de frente pra outra e abraçadas, de modo que os olhos de Lara pareciam fixos no dela.
- Durante esse tempo que você ficou lá em casa, cuidando de mim, se doando, por muitas vezes eu não te dei o valor que você merecia. Ficava falando de minhas dores, meus problemas que sequer questionei quais são as SUAS dores. Porque pra mim, agora, é isso que importa.
- Lara, eu...
- Quais são?
- Não sei... – gaguejava sem saber o que dizer, ou melhor, tentando encontrar uma forma de dizer...
- Pode falar. Eu quero saber! – ordenou.
- Dói não ter tido mais tempo com você. Doeu quando você se apaixonou por outra mulher, uma que nem te amou como você merece. Dói saber que vou ficar sem você, que não posso amenizar suas dores, que não posso tirar isso de você. E pior dói estar e não estar na sua vida.
- Me desculpe. – disse abraçando-a com força – eu, dentro de meu mundinho, não enxerguei você. E por isso, quero agora, que me prometa que você vai ser feliz. Se eu tivesse como reparar todas as vezes que negligenciei o seu amor, tenha certeza que eu o faria, mas saiba também que nunca foi intencional.
- Eu sei. E por isso o que eu sinto nunca mudou!
Ficaram conversando por horas aquela noite. Por fim, Lara adormeceu e Silvia voltou pro seu sofazinho ao lado da maca. No meio da madrugada, Lara despertou em meio a dores terríveis, os enfermeiros vieram, tentaram ajudar aumentando a dose da medicação e a dor não cedia. O tumor estava grande demais e pressionando o cérebro.
Lara suava frio, e se contorcia tamanha a dor que sentia. Silvia foi retirada do quarto para que os enfermeiros e Dra. Lucia, que havia acabado de chegar, pudessem examiná-la melhor. Ficaram lá dentro por muito tempo, e Silvia podia ouvir do lado de fora, os gemidos de Lara que faziam seu coração gritar desesperado. Em poucos minutos Ricardo chegou e encontrou Silvia pálida e aflita, ao ouvir o sofrimento de Lara, abraçou Silvia com ternura.
- Vim assim que eu ouvi seu recado. Vai ficar tudo bem.
- Estou com medo de perdê-la. Eu sabia que ia acontecer, mas é assustador quando a hora parece estar chegando.
Sentaram-se e ficaram esperando alguma notícia. Minutos depois tudo voltou à calmaria. Dra. Lucia saiu do quarto e Silvia se levantou rapidamente sem esperar nenhuma palavra da médica.
- Passaram as dores? Ela dormiu?
- Silvia – o semblante de Lucia era triste – Fizemos tudo que podíamos, mas sabíamos que...
- O que você tá dizendo? – gritou Silvia enquanto as pernas não mais a sustentavam.
- O tumor estava muito grande. E nós sabíamos.
- O que quer dizer? – berrava Silvia enquanto Ricardo a segurava, apoiando-a – Diga! Diga!
- Lara acabou de falecer. Eu sinto muito – falou à medica enquanto ia explicando os motivos que levaram Lara à óbito.
POR: LIVIA QUEIROZ
(CONTINUA...)