segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Portinhola


Eu sou de pó
Ouro puro de pouco valor
Ou de muito valor
(Porque isso de valor é relativo)
Sou do valor que me dão.
E do valor que me dou.

Sou toda feita de mim
Com umas fitas costuradas
Só pra dar acabamento.
Cheia de cores, e simbologias
Que é meu jeito de ser incógnita
Mas só as vezes,
E só pros que não sabem ler.

Para que serve a palavra
Se o desatino é um espiral irregular
A descer “goela abaixo” traiçoeiro?
Para que serve se doar
Se a medida de outrem
É composta em sua maioria
do que não lhe serve mais?

Sou feita de mim
Num canto cheio de perguntas
Num zelo cheio de respostas
Que não enxergo
Para não perder o encanto.
Nasci de algumas metidas
Fortes penetrações
E ainda não descobri
Se sou gelo, esperma ou morte.

Para que servem as perguntas?
A poesia é organizada
num desregramento milenar
Onde, ser não e ser sim
não é nem bom nem ruim
É estado presente e não absoluto
Nada é tão passivo.

Nada é tão.

Simplesmente é.
E eu nasci.

Por: Livia Queiroz

sábado, 24 de novembro de 2012

Amontoados.


Casas.

Casinhas.

Amontoadas.

Pequenininhas.



Encaixadas sem novidades.

Dentro de uma:
Um João pede bis
Uma Maria quer passagem
Noutra:
Uma Ariadne nasce atriz
Irmão que foi, deixa saudade

E nas casinhas, meu Deus
Fico a pensar,
Será que há mesas,
Cortinas, Colchas
Lugar de brincar?

Será que o lado de lá 
o da cidade “feliz”
Sabe da mistura de cores
Que a sujeira não diz?

Todas dormem e acordam

Encaixadas por um triz

Todas cantam e combinam

Remontando o “chão de giz”



E o lado de lá meu Deus
Será que conhecem tijolo
sem reboco, sem gesso
sem degradê, sem textura
sem quadro, sem tela
sem mistura?


Será meu Deus que sonham as flores?

Será que esperam amores?



Há felicidade, que eu vi

Há moral e há bons costumes

Há voto do povo, há gente boa.


Mas será que nas noites

em que sonham seus sonhos

essas casinhas, meu Deus,

se amarrotam de esperança?

Ou será que, em seus sonhos

encaixados, já são as donas
da própria fé na vida, 
na imaculada existência?


Quisera saber,

quais certezas elas escondem

se sabem-se ser, ou estar

Se amontoadas como são

concatenam pensamento.


Quisera eu notar
algo além de seus silêncios
em quebra-cabeça.
Quisera eu ser alguma coisa

que elas ja são.

Para ampliar a imagem clique sobre ela.
Por: Livia Queiroz

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dora


Dora chegou há quatro anos e em quatro horas já era a favorita. Em quatro dias já era a única. Em quatro semanas já era a "toda"... Monopolizara-me os desejos, os pensamentos, os olhares e os poemas.

Mas, numa manhã quente, antes de eu sair para o trabalho, Dora se foi. E hoje falo isso sem tanta tristeza. Era uns pés de mesa despregados que, por conta d'um movimento brusco, despencaram. E Dora se foi!
Dora foi, mas voltava sempre para o meu colo conforto e alento. Voltava porque ninguém te dava um poema e seu ego sentia fome de mim. Depois ia embora, a maldita ia embora levando os poemas, a respiração suspensa e o cinema mudo. Deixando cravada nas paredes da sala uma monotonia em meio tom.

Em quatro anos Dora ia e voltava e já não era mais a mesma e passara então a não merecer tanto. Pedia, nas entrelinhas, para ser ignorada, era a sua vingança: eu sofreria por não enxergá-la. Mas isso também passava.

Dora voltou, mais uma vez (a última, eu espero. Que ainda não to preparada)... Voltou trazendo esperança, o mundo voltou a sorrir, as estradas encurtaram e eu não estava mais à deriva. Dora chegou com promessas de umas palavras que nem seriam ditas, com uma secura esdrúxula e uma ampliação de sofrimentos. Decalquei na hora a volta atarrancada. Esperei por Dora e se tem algo que posso dizer sobre ela é que ela é sol e lua, noite e dia, branco e preto, e sem rotina nem programação (o que leva ao embaraço da percepção).

Dora é de uma espécie que fácil se reproduz e se reflete em qualquer espelho. Tem tido pensamentos vulgares e comportamento desregrado. Acho justo. Mas está perdida. À noite em sua cama às vezes sem pau, ela é só ego. Viaja de costas nos espaços que não possui. Não tem mais no corpo a "certeza mulher", só tem resquícios do que é lamentável, e alguns espermas sofridos.

Dora diz que me ama. Diz que também sofre. Mas isso é inútil diante de tanta covardia e de um pau que não tenho. Ela é presa fácil em qualquer armadilha recheada, e se eu contar o sabor e a textura do recheio, talvez ela se ofenda, porque acima de tudo, Dora é melhor que todo mundo e tem um pudor mentiroso que a mim não engana.
Ela acha que por mais que vá, sempre poderá voltar ( e talvez possa já que sabe o caminho e as artimanhas), mas os atalhos vão ficando diferentes. E as pegadas começam a chegar antes de serem feitas. Dora é previsível, mesmo quando luta para não ser e nas noites em que pensa em como eu estou, começa a fazer contas e analisar peso e contrapeso. E tanta análise assim cansa o enredo. Dora é toda subjetiva e não forma frase nem contexto, apenas passado doído e amor que não serve pra ser dela.


Por: Livia Queiroz

domingo, 4 de novembro de 2012

Epílogo sem nº

Ver seu nome em outra pessoa já não me gela mais o coração
Ver alguém que fez parte de nosso tempo já nem me faz lembrar tanto assim
Lembrar de você, de quem você é, do que você não é, das coisas que fez e das que não fez, ja não me é tão penoso.
E se me perguntam: "o que houve?", eu digo: "já passou, pra que mexer no que doeu por causa nenhuma?"

Te ver indo embora dando desculpa esfarrapada foi um rebuliço bom
Te ver discursando o quanto se importava comigo matou um pouco a fome de meu ego

E então lembrei, que quando te beijava, quando te tocava eu pensava: "quero isso tudo, porque um dia vai acabar"
E não é que acabou?

Olhar essa historinha desse ângulo é de uma perfeição incrível
Olhar pra isso hoje me faz interromper o pensamento do "se..."
Porque "se..." não é nem certeza de futuro, é garantia de "impossibilidade"

Eu gostaria de saber se você consegue dormir bem como eu consigo
Sem afronta, eu juro.

Em mim o que é engraçado agora é a luta se findando
A razão vai vencendo com bravo heroísmo e aí o bla bla bla de sua mesa de bar não tem mais efeito
Aquilo que você cantarola na roda de amigos dizendo: "Quando eu quiser ela volta", é só enredo.
É frase mal curada.

Ela não volta quando você quiser
Nem quando ela quiser
Ela pediu um tempo pra se revelar e se conhecer
E na batida suave fez uma coisa pra dizer "tchau, até mais"

Agora puxa o gatilho
Joga o dadinho
E paga pra ver
Uma mulher sem mágoas
E sem um pingo de lágrima
Nem boa vontade
Nem coragem
E com toda paciência do mundo
Pra dizer em alto e bom som:
"A festa começou faz tempo"

sábado, 20 de outubro de 2012

Desengaiolar


Esses dias estou meio
"gaiola aberta":

Deixando voar pra bem longe
todos os pássaros-poemas.

Por: Livia Queiroz

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Argumento

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Por: Livia Queiroz

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Alfredo


Alfredo mora la na rua com seu punhado de tralhas. Mora lá do outro lado, depois de onde dobra a esquina. Perto do lixo da rua, bem perto mesmo, é meio que inquilino, só sai pra trabalhar ou se banhar no riacho imundo do outro lado do bairro, quase na saída. 

No seu mundo de catação de latas e papelões, ratos e restos ele vive sem revolta, apesar de causar medo às vezes, mas não é culpa dele. Alfredo é bom menino, eu percebo, mas precisa se defender da crueldade do mundo, dos preconceitos da vizinhança que o repele sem que ele nada faça.

Alfredo rouba às vezes. Ele já me roubou uma sacola com algumas goiabas. Mas foi porque tinha fome. De pão e acalento. E já roubou algumas frutas, um pedaço de carne e – se não me falha a memória – levou alguns pertences meus. Mas tudo bem, não me serviam mais mesmo. Ele precisa de um banho, uma cama, uma boa noite de sonhos, exames de sangue, vitamina C e alguns fortificantes, que ele é muito magrinho. 

Há quem reclame! Dizem que ele anda armado. Ora, ele segura um bastão de ferro, mas é pra se defender. O coitado não ataca ninguém. Ele tem uma arma, sua única defesa por não ter tido um pai, uma mãe, uma boa escola e uma refeição digna. É sua arma dura, é dura, é arma, mas é por causa do medo. Ele tem tanto medo, e não sabe que tem, e não sabe do que, mas sabe que quando escurece e seus pelos se eriçam não é só por causa do frio. Ele tem medo porque os leões que ele enfrenta toda madrugada não vem fantasiados de metáforas. Os rugidos eu posso escutar aqui de casa. 

Ele tem medo. Mora ali do lado, e eu ás vezes o vejo chegar do trabalho, tirar o alimento machucado e velho da sacola de pano imunda, sentar na sua sala de estar de papelão e degustar o prato mais delicioso do mundo. Alfredo sabe o que faz. Às vezes me pergunto se ele chora, se sente saudade de algo, se ele já se acostumou com a vida. 

Uma vez o vi dormindo, parecia sorrir, gostaria de saber o que ele estava sonhando. Mas aposto que sonhava com a liberdade. A exaustão as vezes é percebida em seus olhos, ele trabalha muito e ganha pouco, mas não sabe disso. Acho que pensa que é tudo muito normal. Talvez seja ingênuo. Gostaria de perguntar, mas ele não permite muito contato, acha que querem roubar seu lixo, seu tesouro diário, empunha a barra de ferro e faz cara feia. Mas não ataca, ele é um doce. Ele não ataca ninguém!

Outro dia quis encostar, dizer um “oi”, essas coisas de vizinhos. Mas ele empunhou a arma dura, e foi direto ao ponto:
- O que quer?
- Só vim dar bom dia, Alfredo!
- Não me chamo Alfredo. – e deu as costas.

Pronto! Acabou com minha esperança de salva-lo. Por quem oraria agora se ele sequer me disse seu nome verdadeiro.? Gostei de inventar um nome pra ele, mas agora perdeu o encanto e não sei mais criar outro. 
Alfredo me atacou, me roubou e me matou!

domingo, 23 de setembro de 2012

En-Caderno


Ele, o sacro. O Sábio-Branco. De um branco amarelado que não é lacuna, nem ‘em branco’ e sim respiração suspensa como a que guardo nos dias em que os meios não justificam os fins. Ele: O guardador, o contentor do que não digo (e não digo o quê).
 
Ele, em sua sabedoria muda lança à minha cara milhões de verdades e mentiras e pede
explicações, emite sugestões. Incute pensamento. Exige movimento. E devolve o
que lhe digo, sempre em dobro (de dimensões e peso).
 
Outro dia me peguei em saia justa conversando com ele sobre uma insatisfação minha:
 
" – Pois, e não sabes que as pessoas mudam?  
– Sei!     
– Não sabes o que a distância faz com elas?    
– Sei – respondi – mas eu pensei que poderia ser diferente.           
– Não é! 
– É complicado.    
– Não é.   
– O que é então?  
– É simples: Quem se importa há de cuidar do que existe!”          

 

Calei.
 Ele possui a aspereza exata. A que não bane, mas a que ressalta a lógica.
 
 
"Sabe de uma coisa? Não deves cometer a tolice de acreditar em tudo o que lhe dizem. Pés  foram feitos para estar no chão. Assim como promessas cheias de cor são feitas só porque serão quebradas. Não é culpa das promessas. A culpa é das cores!"

 
Emudeço. E não há nada ainda posto sobre ele. Não há nada demais.
 Ele é como um cômodo vazio que pensa cheio...
 
"Depois de tanto tempo a ausência se torna presença constante (um paradoxo não?) e aí fica muito parecida com uma filha da vizinha que de tão próxima já vira melhor amiga sem precisar de conquista, já é parte da casa e até parece combinar com a mobília. Não é da família, nem da casa, mas é como se fosse. A ausência, com o tempo fica assim e para melhor suportá-la, a apelidamos de não-presença que é pra ver se dói menos. Pedimos ao destino, aos amigos, ao espelho pra ‘deixa pra lá’ que é pra ver se faz menos efeito. E depois – aos poucos – não é que vai mesmo doendo menos?"

 
 Ele é cheio de degraus, possui etapas e conhecê-lo exige um procedimento. Há uma raridade em sua postura: a transparência. E há ainda a inocência e a serenidade que ficam pelas bordas... Ele é inevitavelmente um amigo silencioso
 
"Vão passar pela vida tantas pessoas boas, tantas ruins. Mas isso de ser bom ou ruim é relativo. O regular mesmo é ser imparcial, mas acaba sendo melhor ser justo. Se não quiser o bem também não queira o mal. Fique fria. Permaneça fina. Fique lúdica. Posta à prova e sempre pronta. O bom mesmo é não exigir, por que cansa e além disso o que está pra ser sempre é, sem regras impostas e sim intrínsecas."
 
 
 
Eu não me atrevo a argumentar e chego a questionar se são devaneios essas coisas que percebo dele, mas tão acurácicas que são, me recuso a impor limites e travas nesse linguajar de poesia e cuidado.

“Há um motivo pra tudo. Ou vários. Optar por esse ou aquele destino não tem a ver com escolhas, mas sim com necessidade. O melhor é saber por onde começar e já que um caminho pode ter várias entradas e saídas o ideal é levar consigo um mapa. E saber quando é a hora de partir. Partir dói quando há raízes, mas é necessário completar o dinamismo da vida. Renovar as energias. Modificar. Compartilhar.”

Eu sei de uma coisa: ele possui uma vantagem sobre mim... Se ele se perguntar "quem sou eu?" terá por certo uma resposta. Quanto a mim, viraria partículas de rebarbas antes de repetir a pergunta só para não respondê-la.

Acho que ele é um sábio refúgio, um modelo do que não consigo seguir. Algumas coisas melhorariam-me por certo. Eu não quero manchar um papel com essas coisas que sinto, prefiro ouvir dele, que em branco, me comove enchendo meus olhos de lágrimas e invocando minha serenidade.

“Sabe, ela vai fazer muita falta. Você vai sentir o coração apertar, depois pesar, depois doer. Talvez um dia passe. Mas enquanto não passa o melhor mesmo é você conseguir conviver com a sensação doída. Afinal, o melhor é deixar que nasçam por si só as borboletas. Arrebentar casulos é um atentado contra a ordem natural das coisas, e a ordem natural diz que pra se fazer sarar há de se fazer doer.  Pois então, deixe ir, deixe passar, não se entreponha entre o ‘que já foi e e não é mais’. Vamos lá, supere! Get Over! Cabeça erguida e deixe de drama que o mundo é único demais pras seus apelos.”

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A mulher sem costume

Por hora ela apenas tem polido as cascas
E só!
Conserva-se sem olhos
Seios, e sem fé.

Inócua!

E há de chegar o dia
em que implodirá.
Não precisa deixar marcas
Nem abalos.

Ela é císmica,
Cósmica,
Sínica,
Sátira e
Púrpura.

E merece partir ao meio.
É sempre denso porque ela é assim:
Mórbida e sem estilo.
Ela merece morrer na palavra.
Na palavra Císmica,
Na palavra Cósmica,
Na palavra Sínica,
Na palavra Sátira e
Na palavra Púrpura.

Está tudo muito denso.
E seria bom pra todos
se ela partisse ao meio
e por inteiro.

Por: Livia Queiroz




terça-feira, 28 de agosto de 2012

EuDivã

Às vezes é preciso escrever pra si mesmo(a) .

E peço então minha querida que não me conte essas mentiras que não valem nada, porque elas não surtem efeito e não te tornam uma pessoa melhor, me refiro à essa liberdade embaraçosa tão sua e tão de ninguém...
Entende o que quero dizer?
É q não vale a pena tentar camuflar os espelhos. Entende agora?
É que você não deve e não pode mascarar sua dor, achando que vai ficar tudo bem. Entende agora?
Se dói, dói porque tem que doer. Se dói, dói porque não ta sendo cuidado. Se dói é porque precisa sarar. Seja o que for! E você precisa, menina, de algum trato, algum barato fato de fato que te faça rir de verdade de novo e sem risco de expirar o momento...
O que você precisa é de seu momento, honey, e ele é só seu.
Para de buscar em outras bocas as palavras que gostaria de ouvir de outrem! Não vai acontecer! Não vai ser parecido! Não vai dar ...
E dessa vez, minha pequena, parece que você se enrolou toda... Dessa vez algumas pessoas estão envolvidas e você não notou seewtie?
Dessa vez você terá muito trabalho com as despedidas e cartões postais: envie-os a quem os merecem, porque não é gentil simplesmente sumir minha flor. Diga ao menos um até logo mesmo que ele dure uma eternidade...
Pague todas as suas contas antes, retire do armario o calendário que nunca usou, estique mais um pouco o pensamento para encontrar uma razao que lhe convem e encorajar a alma a se arriscar pelo vôo com desino á si mesma.
Há um historia que te cabe! E essa coisa de merecer ou não é só coisa da sua cabeça. Porque a vida é justa e as chances são as mesmas pra todos...
Se livra dos pesos menina! Procura o sutil que é ainda belo!
Terá alguns perdões a recolher e a doar mas isso não é problema, certo?
Cuida-te menina, e modera essa acidez que faz mal a saúde. Melhora o humor e por favor não se irrite por tão pouco que não quero te ver se arrastando pelo chão, nem se arranhando entre espinhos e lama... Isso não há de fazer de você um ser humano melhor.
Por fim, não te esqueças, desenha à tua porta os traços da felicidade e os tons mais serenos possíveis e veja bem, me refiro ao desenho completo. Não tolere rabiscos nem esboços que não passam de sujeirinhas pintadas sem gosto... sem a sensibilidade de quem está a procura de si mesmo.


(Por: Livia Queiroz)

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Estranho

Estranho é agora, depois de anos, batendo na mesma tecla, imaginar que talvez seja melhor deixar do jeito que está. Você no seu canto e eu no meu. Sem querer mais contato. Sem querer mais coisas que doem. Sem querer a parte de você que machuca. Querendo, pela primeira vez - por covardia ou sei la o quê - percorrer o caminho mais fácil.

Estranho pensar que você mudou tanto. que enrijeceu a alma e deixou o amor que eu te dei em forma de casca grossa e bruta, sem polimento, sem brilho. Estranho, pela primeira vez em anos, eu acordar todos os dias me perguntando se ainda é amor o que sinto por você. E se foi ou é amor o que você sente por mim. E como você se transformou nessa rouquidão feia: conjunto de carne, osso e distância.

Me desculpe, eu penso em possibilidades. Eu penso em estratégias. Eu penso em novidades. Penso em esculpir uma vida, deixar o coração saltar às vezes, deixar o olho se molhar, perder a praticidade e em alguns momentos deixar a razão e ser só emoção pra sentir, pra estar, pra ser, pra tudo ao mesmo tempo. Você perdeu o tato para o encanto.

Você perdeu o encanto. Perdeu o encanto, deixou-o passar. Perdeu e anda me perdendo, eu acho, com as ausências - que você não se importa -, com as saudades não amenizadas, com o desejo não suprido. Vai perdendo pouco à pouco e finge se importar mas não acorda, não reage.

Estranho. Estranho isso de acordar todos os dias e me perguntar se ainda amo você. Antes eu tinha tanta certeza, mas agora, ja nem sei mais...

(Por: Livia Queiroz)

P.S.: Só um desabafo!

sábado, 7 de julho de 2012

Parar

O fim de um amor dói... Dói pelas possibilidades, pelas más e boas vontades, dói pela determinação, pela naturalidade. E dói inúmeras vezes e por diversos motivos!

O fim de um amor dói quando no meio da madrugada o sono foge e você redescobre pela milésima vez que não tem mais em quem pensar, por que pensar é um meio de materializar a dor.

Dói quando bate a saudade e você quer ligar pra contar e não pode, ou não deve. Ou o orgulho não permite. E aí você prefere contar aos amigos, mas “a sua chamada está sendo encaminhada para a caixa de mensagens e estará sujeita à cobrança após o sinal.”

Dói o primeiro fim de semana só. Dói a não ligação. Dói o almoço hambúrguer sem você. Dói o não cinema. Dói o não hotel. Dói a não cama. Dói o não fazer amor, o não estar amor e o não ser mais amor. Tudo dói, e dói com a força de toneladas pressionando o peito e comprimindo a respiração.

O fim dói quando, depois de um tempo, você se conforma, se revolta, conforma de novo, se revolta, esvazia, se conforma e quando está quase pronta, sente Saudade de novo. Dói. Dói porque não deve, porque não pode, porque estava quase lá... Porque sentir saudade de novo é uma afronta às coisas conquistadas.

As “coisas conquistadas” também doem... As bocas, somente língua e saliva, vazias de emoção. Os corpos apenas sexo mais vazios ainda, comuns, desinteressantes, estúpidos. Dói não ser você em minha boca, não ser você em meu corpo, não ser você em mim toda por todos os lados e posições. Dói. Apenas isso: Dói!

Doem as reclamações que não vem de você. Dói o não cuidado. Até o tempo dói. O tempo se rala com aspereza e vagarosidade ante minha face e me torna uma des-espera murcha, pitoresca, esdrúxula. Dói o “quem sabe um dia”, o “o que tiver que ser será”, o “talvez tenha sido melhor assim”, o “gostaria de pelo menos ter sua amizade”, o “eu ainda te amo, mas infelizmente as coisas não andam bem”. Tudo dói por ser verdade e mentira ao mesmo tempo.

Dói minha vontade de acabar com tudo. Doem os conselhos, os rejeitos, a repulsa por ti que às vezes sinto. Doem os novos números de celular que possuo só pra saber (com um pouco de ego, felicidade e insegurança) que se você me procurar não vai me encontrar. Dói lutar só, superar só, esquecer só e ter que ser só.

Dói repetir mil vezes pra mim mesma que “não valeu à pena” na tentativa de incutir-me outros pensamentos. Dói se desprender, se livrar, desfazer-se das necessidades. Dói matar o amor e/ou deixar que ele morra sabendo-se o que está fazendo.

O desligamento dói, e é como se pontinhos de luz espalhados estrategicamente pelo corpo todo com o intuito de serenar e iluminar a cada dia se apagasse. Um de cada vez. E o corpo tem medo de escuridão, sacode-se, irrita-se, reclama e luta inutilmente para reacender os pontos, mas eles continuam se apagando... apagando... apagando...


Parar Dói!




Por: Livia Queiroz