só o faz por não querer viver. Quem foge, só o faz por não saber morrer. A morte é certa. A dor nem tanto. Mas a fuga é inevitável.
Do vira-lata ela nunca, nunca, nunca mais teve notícias.
Do vira-lata ela nunca, nunca, nunca mais teve notícias.
Engasgada nas próprias palavras ela procurava abrigo, mas só encontrou um mundo de portas lacradas, no peito uma saudade a corroer-lhe e a garganta chiava num grito bobo.
Suas mãos cruzadas pareciam-se apenas com mãos cruzadas e não desenhavam nenhuma forma geométrica, e suas palmas eram murchas. Nelas nenhuma picareta poderia ousar tentar adivinhar o futuro.
Suas unhas roídas até quase onde não mais se podia, carregavam um pouco de sujeira grudada, que já dormia e acordava no lugar. A cor de sua pele era suja. Por mais que se banhasse a cor não mudava e tinha a lama entranhada em cada poro.
Seu corpo era reto, não captava a serenidade do movimento, era crespo. Tinha carne suficiente para cobrir-lhe as costelas. Tinha talento suficiente para fazer estas carnes apodrecerem.
Sua voz não tinha eco. O seu eco virara silêncio.
Era livre.
Podia sumir e não era porque ninguém a procuraria, mas sim porque ensinara-se a não se importar. Como se fosse a primeira e a última. Como se suas unhas servissem de porto seguro ao crava-las em seus próprios braços. Ou como se suas mãos sem forma definida fossem capazes de fazer parar a quem irrompesse o cordão de isolamento.
Estava presa do lado de dentro do mundo, mas não era por isso que queria sair. Sabia-se fugitiva desde nascença, o presídio fora apenas uma desculpa. Estava predestinada. Quebrava-se e fugia. E era feliz sem saber o que era não ser. Uma criança talvez perdida, chutando a bola para o amigo mais próximo, e ao jogar a bola conforta-se, pois sabe que ela está em boas mãos, a brincadeira continuará e tudo ficará bem.
Mas isso [agora]não vem ao caso.
CONTINUA...
(Por: Livia Queiroz)