quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A-Briga.

Dentro do quarto a ala cinza se estica com facilidade. Entre os corpos há uma fronteira invisível que oscila entre o hostil e o desconfortável. Ninguém se des-culpa... A culpa vem sempre do lado oposto.

Dedos em riste acusam-se opostos sem sequer pensar à respeito. Derramam as “quebras” escritas com sangue. Olhos vermelhos e sempre molhados fuzilam-se em meio à penumbra de tantas acusações, à tantas falhas apontadas repentinamente.

Murchas, as rosas, que a tudo assistem abismadas, começam o autoflagelo. Pétala por pétala. Como é misterioso o mundo dos amantes!

Por horas e horas e horas o ar é cortado por verbos ameaçadores e monstruosos adjetivos de fundo proibido de gaveta. Como é tortuosa a vida de quem ama!

O primeiro corpo, exausto, senta-se na cama buscando alguma energia e segurança, ou repouso talvez. Tomba a cabeça pra trás, olha pro alto e procura por Deus. Um soluço comprimido concorda (com) e rasga o resto do que já foi dito. As mãos tentam abafá-lo inutilmente.

O segundo corpo também exausto sugere que cada um siga pelo caminho que achar melhor.

O primeiro corpo, o exausto número um, concorda dando de ombros, mas não se move...

Ficam lá, os dois, o primeiro sentado de costas para o segundo que permanece de pé. Ficam assim, ensaiando despedida. As temperaturas dos corpos começam a voltar o normal e sobra um pouco de dor de cabeça.

Depois de algum tempo, o segundo corpo também desaba na cama, covarde, coitado! Sem coragem e sem vontade de desmontar os sonhos. Como num balé mal feito, ambos se deitam. A energia do quarto amante se encontra pesada demais para meros mortais estafados. Coitados!

O primeiro se encolhe. Tem medo... medo...

O segundo se cala. Tem vergonha... apenas isso...

Tempos depois, vem a brisa calada do fim da tarde levar toda a sujeira gritada no ambiente recente-cinza. Um último raio de Sol ilumina os olhares que se encontram como se fosse a primeira vez. Tudo é novo. Tudo é silêncio. Tudo é de novo amor. De repente. Nada é dito, apenas caem da cama as roupas sujas de palavras em lama e os corpos novamente puros dão de beber às quase mortas rosas.

Como é perigoso o mundo dos amantes!


(Por: Livia Queiroz)