quinta-feira, 21 de julho de 2011

De cada Um...

Ontem, logo na manhazinha azul que mais parecia criança quando acaba de raiar pra vida, eu vi um homem morto...


Ele estava lá, como deixaram: camisa azul marinho e calça jeans, uma bota de couro de um preto velho e desgastado, a bicicleta azul e suja caída entre suas pernas...

E o homem lá: M O R T O...

Ninguém sabe o por quê. O mundo ficara silencioso de repente, para todos os que estavam a observar aquele tempo de ida sem volta. O dia raiava e o sem-vida, continuava lá caído, de rosto grudado no chão e saindo de sua boca, uma enorme mancha de sangue que envolvera todo o contorno da cabeça como um travesseiro: o conforto do último vestígio de vida se esvaindo de um corpo.

Havia uma palidez no rosto de quem o via, uma espécie de cara-parada...

Eu percebi, ali, quando olhei o homem estirado, que o que me impressiona na morte não é a vida ir-se, mas sim o desuso do corpo, a utilidade nenhuma do que se define como ser humano.

O que realmente impressiona na morte é o momento do estado “parado”, do jeito “duro”, da face sem expressão... Aquele homem ficou de repente com um “não” preso no olho semi-aberto que, penso eu, “será que esse olhar teve tempo de ver a cara de morte, à ponto de, se possível fosse, fazer um retrato falado?"


Assusta-me também a feição, e os sentimentos de piedade que sobrevoam em nuvem pelo ambiente, o caos silencioso que paralisa os desconhecidos, e a dor que chega em cada peito sem saber porque ali está...


Deixa-me curiosa essas impressões e expressões que o fim da vida tirada pinta em cada rosto personagem componente do cenário “vazio”: caricaturas fantasmagóricas testemunhas de um espelho...


Imagem : Google

Por: Livia Queiroz