*
Era uma vez
uma noite
E uma menina
revestida de lua
E olhos
ávidos por futuro
Era uma vez
um quarto
E uma janela
sempre fechada
Uma cama
serena
Alguns livros
Coleções de
brinquedos
Era uma vez
uma noite
Revestida de
menina
E olhos de
luar
Era uma vez
um cansaço ligeiro
E pernas
doídas
E repouso de
corpo
e espírito
E criança
adormecida.
**
Era uma vez nessa
mesma noite
Um corpo frio
Revestido de
colchas
Embrulhado
pro tempo
Era uma vez
um frio no corpo da noite
Revestido de
tempo
Nessas mesmas
colchas
De retalhos
de sonhos
E uma menina
a sorrir
Pelo lado de
dentro
[Que é onde
vivem os sonhos]
***
Era uma vez, indumentária
florida
Chamando
festiva a menina no sonho
Que ora era
palácio, ora era suplício
Ora clamor,
ora pudor, ora fervor
Era uma vez a
menina no sonho,
Num palácio florido,
E com canetas
nas mãos
Sem teorias
nem demagogias
Sem regras,
apenas entrega
Era uma vez
umas canetas floridas
Em suma
entrega ao papel em branco
De um sonho
confuso
Sem jeito nem
leito
Com dó do
sujeito que depois
O adivinharia.
****
Era uma vez
uma menina
Acordando sem
jeito
Sem nó no
sujeito
Sem caneta
nem papel
Nem palácio,
nem cor
Sem flor, sem
fervor
Só pudor e
quase amor
Mas que ria,
se ria
Toda se ria,
de dentro
E de fora,
sorria e se ria
Era uma vez
um sonho
Que virou
poesia
E se achava o
mais lindo
Pois sem rima
se ia
Mas a menina sem jeito
Danada de não
lembrar
De um poema
que foi feito
Todo
revestido de luar.
Por: Livia Queiroz