domingo, 22 de março de 2009

P e d a ç o s

A lua em quatro crescente brilhava tímida na janela, o quarto estava enormemente vazio, de outros corpos. Ninguém além de nós, nem na cama, nem na sala, nem em qualquer outro cômodo. A casa estava morna como os nossos olhos.
Roupas jogadas pelo chão faziam o caminho até nós... E nós lá... Deitadas.

...Apen
as isso...

Percorrendo com as mãos os corpos suados, embora ainda trêmulos.
A cor que circundava nossos olhos coloria também o ambiente, falávamos coisas desconexas e inapropriadas também. O travesseiro ja havia sugado o perfume dos seus cabelos, e eu tinha a certeza que abraçaria o travesseiro pelo resto de minha vida, porque sabia que seria a última vez que tocaria daquele jeito aquele corpo.

Partiriam-se os elos dali pra frente, mas ficaríamos presas por um fio.Os lençóis queriam se rasgar também, e nada do que fosse dito podia amenizar o que estava por vir.

A timidez da Lua escondeu-a, e o Sol abriu-se por volta de algum momento da manhã, mas os nossos olhos fechados não deram muita atenção.
Cada parte da casa nos olhava como se fóssemos duas estranhas perdidas num canto qualquer.
Ela estava à beira de meus pensamentos de propósito e uma lágrima despontava de meu olho inchado.
Tantas coisas à espreita. Mas sabíamos o que tinha que ser feito embora não admitíssemos.

A calma era clara.
Cheia de dores, ela me falou de uns antigos problemas que eu conhecia de cor.
Entendi tudo. EU Não podia ser.
Ela não me faria caber ali nem que eu encolhesse mais e mais e mais.

O rastro do resto foi-me trazido em gotas.
Continuo digerindo à prestações.


(Por: Livia Queiroz)

Ao som de Chicas: "Espumas ao Vento"