segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ascendente Câncer ( Parte 12 )

Não havia mais clima para Lara conversar com Silvia à respeito de Natália. Sentia-se mal por saber que Silvia ainda a amava e por não poder retribuir tal sentimento, em compensação mudara sua maneira de agir, tornando-se mais compreensiva e menos egocêntrica.
O domingo chegou cheio de Sol. O céu, que Lara não mais podia observar sorria para ela, que parecendo entender do sorriso, acordou cheia de coragem, e muito disposta. Silvia estranhou vê-la de pé cedo, sentada no sofá da sala, arrumada. Ela que quase não saía do quarto por medo de tropeçar em alguma coisa, mesmo Silvia já tendo tirado todo obstáculo do caminho.
- Acordou cedo. Que bom! Tá linda, vai sair? – perguntou admirada
- Pretendo. – respondeu, Lara, ansiosa. – Preciso ligar pra Ricardo, mas não sei o número de cor e nem ia adiantar pegar o cartãozinho dele...
- Mas hoje é domingo, Lara. Não sei se ele trabalha...
- Por favor, Sil, liga.
- Ligo sim.

Silvia discou o número e foi pra cozinha, imaginou que Lara quisesse uma consulta com Ricardo e não ia ficar escutando a conversa entre os dois.

- Desculpa Ricardo. – começou, meio sem graça – Eu sei que você nem trabalha hoje, mas é que... – pausou a fala, tentando pensar na palavra certa.
- É que...
- Queria ir até a casa de Natália. FalaR com ela, já que não poderei vê-la. – disse quase rindo da própria frase.
- Acho uma boa idéia.
- Mas tem mais uma coisa.
- Pode falar.
- É que eu não posso chamar Silvia pra ir comigo. E também não consigo ir sozinha, e...
- Entendi. Vou me arrumar e passo pra te buscar.
- Obrigada Ricardo, você é um anjo.
- Anjo? Eu? Não diga uma asneira dessa. – disse soltando uma gargalhada.

Meia hora depois ele chegou ao apartamento de Lara. Ela estava do mesmo jeito que quando ligou pra ele: sentada no sofá da sala, esperando. Estava linda. Despediram-se de Silvia, que não entendeu nada, e saíram. Era a primeira vez que Lara saía de casa após a perda de visão. A sensação era estranha: ouvir os carros, as vozes das pessoas, até os gritos dos vendedores ambulantes, os carros de som, sem ver as cores, os rostos...

Ricardo seguiu o caminho que Lara dera como endereço, em poucos minutos estavam frente ao prédio que Natália morava.
- Aperta o 415. – pediu Lara.

Ricardo assim o fez e em seguida ouviram uma voz masculina atender o interfone. Lara estremeceu, devia ser o tal namorado, mas sabia que corria esse risco e se chegara até ali tinha de ser forte. Ricardo percebeu, e segurou seu braço passando certa segurança.
- Natália, por favor – pediu com voz firme.
- Ah, ela não está.
- Sabe se ela vai demorar?
- Creio que vai.

Lara afastou-se do portão desapontada, sem ao menos agradecer pela informação. Guiada por Ricardo entrou no carro. Na janela do apartamento, Natália observava Lara ir embora ao lado daquele homem que jamais vira na vida, chateada talvez. Mas não se importava, era assim que tinha que ser e além do mais, não pediu pra Lara aparecer de surpresa.
- Quem era? – indagou o namorado
- Uma amiga. Quer dizer, ex amiga.
- Por que não a recebeu?
- Não tenho o que falar com ela. Não quero contato. – disse nervosa.
- Nossa! Calma.
- Eu to calma. – disse enquanto se sentava no sofá e fingia ler um livro que sequer sabia o título – Preciso estudar.

Sentada ao lado de Ricardo, Lara se mostrava triste e até um pouco cansada. A alegria que sentira ao acordar foi diluída em poucos segundos.
- Ela estava lá e não quis me receber.
- Que é isso Lara? – dizia Ricardo tentando apaziguar as coisas.
- Eu sei que estava.
- Não tem como saber isso.
- Tenho sim. Você não entende, mas eu sei que ela estava lá e não quis me receber, daí mandou aquele cara mentir. – pronunciou as últimas palavras com certo desdém.
- Aquele cara é o namorado dela?
- Deve ser. – disse emburrada e virando o rosto como que a pedir um tempo em silêncio.

Ricardo entendeu o recado e dirigiu sem dizer mais nada.


POR: LIVIA QUEIROZ


(CONTINUA...)