domingo, 3 de janeiro de 2010

Pintura

Esfregas sobre minhas carnes teu pelo macio

De forma que ao cheirar-te,

rente à minhas narinas,

sinto teu sal abaixo de minha língua.

O que há tempos passados

enlouquecer-me-ia em estágio puro de repugnância,

causa-me agora um fervor rígido

pela coluna sabiamente emoldurada.


Ao passo que o passo se engole

o rigor das horas,

dos quilômetros por hora,

dos metros por minutos,

das areias arrancadas pelo vento,

Ao passo que o passo se devora,

meu passo faz volta anti-horária

e pára frente a tua porta.

Meia noite,

e somente tua silhueta se oferece

para que eu lhe coma

com todo meu instinto

e com toda minha ternura.


Para que eu lhe xingue

tal qual uma vadia

que pede mais um gole sempre.

Para que lhe derrame

minha sombra liquida e quente,

e rasgue teus últimos pudores de boa moça

enquanto arranha-me as costas

e entre os lábios prendes a minha carne,

morna, leve.

Tua.


E se me pedires um poema,

direi que não és uma causa pra poema,

Envergonhas a palavra,

Envergonhas o amor

Envergonhas a vergonha.

Somente o teu pelo

a esfregar-se por minha barriga

far-me-ia mudar a idéia tola

de que não serves para um poema,

um verso que seja.


Engulo-te e cuspo.

Sugo-te e regurgito-te.

És apenas pintura magoada.

Mulher dessas mulheres todas

que atravessam ruas

e olham pelos cantos dos olhos

a quem lhes ousa um cumprimento ainda que vulgar.


És mulher dessas mulheres

que pensa estar ao alto,

e no entanto sou eu quem te alcança

e lhe pega em cheio

como que uma pancada na nuca.

Deixas de ser suave,

pois a meia noite tua silhueta te ofereces

a mim para que eu lhe coma.

Como a mais sabia das putas,

esperas-me na mesma esquina todos os dias.

Ai de ti se eu não for!


(Por: Livia Queiroz)


Nota: Não conheço a personagem do poema, eu juro, mas se alguém conhecer por favor me avise! rsrsrsrsrsrs