Esfregas sobre minhas carnes teu pelo macio
De forma que ao cheirar-te,
rente à minhas narinas,
sinto teu sal abaixo de minha língua.
O que há tempos passados
enlouquecer-me-ia em estágio puro de repugnância,
causa-me agora um fervor rígido
pela coluna sabiamente emoldurada.
Ao passo que o passo se engole
o rigor das horas,
dos quilômetros por hora,
dos metros por minutos,
das areias arrancadas pelo vento,
Ao passo que o passo se devora,
meu passo faz volta anti-horária
e pára frente a tua porta.
Meia noite,
e somente tua silhueta se oferece
para que eu lhe coma
com todo meu instinto
e com toda minha ternura.
Para que eu lhe xingue
tal qual uma vadia
que pede mais um gole sempre.
Para que lhe derrame
minha sombra liquida e quente,
e rasgue teus últimos pudores de boa moça
enquanto arranha-me as costas
e entre os lábios prendes a minha carne,
morna, leve.
Tua.
E se me pedires um poema,
direi que não és uma causa pra poema,
Envergonhas a palavra,
Envergonhas o amor
Envergonhas a vergonha.
Somente o teu pelo
a esfregar-se por minha barriga
far-me-ia mudar a idéia tola
de que não serves para um poema,
um verso que seja.
Engulo-te e cuspo.
Sugo-te e regurgito-te.
És apenas pintura magoada.
Mulher dessas mulheres todas
que atravessam ruas
e olham pelos cantos dos olhos
a quem lhes ousa um cumprimento ainda que vulgar.
És mulher dessas mulheres
que pensa estar ao alto,
e no entanto sou eu quem te alcança
e lhe pega em cheio
como que uma pancada na nuca.
Deixas de ser suave,
pois a meia noite tua silhueta te ofereces
a mim para que eu lhe coma.
Como a mais sabia das putas,
esperas-me na mesma esquina todos os dias.
Ai de ti se eu não for!
(Por: Livia Queiroz)
Nota: Não conheço a personagem do poema, eu juro, mas se alguém conhecer por favor me avise! rsrsrsrsrsrs