No dia seguinte, Natália levantou com forte dor de cabeça, tivera uma noite horrível. Dormiu muito mal e parecia que tinha um tijolo amarrado à sua cabeça. Mesmo assim levantou, tomou banho se vestiu e foi até o apartamento de Lara.
- Entre. – disse Silvia educadamente.
- Por que você está aqui? – perguntou Natália sentindo o ciúme fazer parte dela novamente.
- Porque alguém tinha que estar!
- Vocês estavam juntas de novo?
- Sempre estivemos juntas, ao lado da outra pro que quer que fosse.
- Não é disso que to falando! – irritou-se Natália.
- Então a resposta é não. – falou Silvia pegando sua bolsa e se dirigindo à porta.
- Aonde você vai?
- Trabalhar. Quando sair, por favor, feche a porta. – e saiu sem procurar pensar muito na presença de Natália ali.
Natália passou pelo apartamento. Adentrou no quarto de Lara e ficou lá, deitada em sua cama que ainda guardava o cheiro da única mulher que amara nesse mundo.
Ficou por lá o dia inteiro. Cochilou e acordou várias vezes. Ao fim da tarde, Silvia voltou para tentar arrumar mais algumas coisas e ainda encontrou Natália dormindo agarrada ao travesseiro de Lara. Sentiu o corpo estremecer num misto de raiva e ciúme, mas preferiu não dizer nada, voltou para a sala e lá ficou esperando que a moça acordasse. Já havia escurecido quando Natália levantou.
- Desculpe, deitei na cama de Larinha e acabei pegando no sono. Sonhei com ela.
- Não tem problema – disse Silvia sem tirar os olhos do livro que estava lendo.
- Silvia, obrigada. – falou Natália com voz rouca ainda.
- Não fiz nada para você me agradecer.
- Fez sim. Cuidou de Lara. Ficou do lado dela. Amou-a, apoiou, segurou a barra e sabe lá o quanto deve ter sofrido e o quanto está sofrendo ainda.
- Fiz porque a amo.
- Eu sei. Também a amo, mas por conta da birra, da zanga, e do orgulho não consegui perdoá-la à tempo. Ela foi à minha casa e tudo! Eu nem a recebi.
- Eu sei. Ela te amou muito, e a única coisa que queria era ver você.
- Se ela tivesse me contado...
- Você viria por pena?
- Lógico que não! Viria por amor, isso sim.
- Ela achava que se te contasse você viria por pena e ela nem queria que você soubesse na verdade. Falava que não queria estragar sua felicidade, que você estava bem, amando outra pessoa, feliz da vida...
- Evitei Lara justamente por saber que não ia resistir por muito tempo, e como já estava magoada encontrei um motivo à mais para me afastar. Mas agora sei que é tarde pra voltar atrás e...
- É. – interrompeu Silvia levantando-se e seguindo para o quarto – Preciso arrumar as coisas dela. E tentar entrar em contato com a mãe pra saber o que ela vai fazer com isso tudo.
- Me deixe ajudar. – pediu Natália indo atrás de Silvia e parando na porta do quarto.
- Como queira – respondeu, dando os ombros.
Já era tarde quando terminaram de arrumar as roupas que foram postas numa terceira mala, e os objetos pessoais que foram separados em caixas. Fizeram tudo isso em silêncio, cada uma perdida nas lembranças boas que guardavam de Larinha.
- Eu posso dormir aqui? - pediu Natália, querendo se sentir um pouco mais perto de Lara.
- Pode. Eu já estou indo.
Silvia voltou para casa e ligou para Ricardo:
- Natália apareceu lá? – surpreendeu-se o psicólogo
- Apareceu pela manhã. Eu tava indo trabalhar e a deixei lá, quando eu cheguei, ela ainda estava. Me ajudou a arrumar as coisas e pediu pra dormir lá.
- E você?
- Deixei-a lá e vim pra casa.
- Ela ficou muito abalada.
- Peso na consciência.
- Acho que é mais arrependimento. Porque todas as pessoas pensam que tem todo o tempo do mundo para colocar as coisas em ordem, desfazer os desentendimentos, amar com tudo que pode... E uma hora o tempo passa, acaba e já era a baita oportunidade que a vida esfregava diante de seus olhos.
- É verdade!
Conversaram mais um pouco e se despediram. Silvia tomou um banho demorado e em seguida caiu na cama, dormiu pesadamente.
Ao contrário de Natália que passou a noite em claro.POR: LIVIA QUEIROZ
(CONTINUA...)