(...) que poderia eu – logo eu – dizer à seu respeito? Não
que eu não saiba, mas é que às vezes não me recordo das palavras que passam
saltando diante do percurso inevitável dos olhos que carrego.
É como nas histórias de suspense: o sujeito ouve um barulho
detrás da porta e, ao invés de correr, decide ficar e descobrir. E você tem
sido o meu barulho... meu pânico regado à curiosidade.
Quantas horas à mais são necessárias viver para seguir ou
perseguir aquilo em que se acredita? Talvez a vida toda... É que eu acredito em
você e meu pânico acredita em seu barulho.
Acreditar não é a maneira mais fácil, e sim a mais intrigante,
penso eu, porque é a coisa do “abrir
a mão” e estendê-la, não como mero apoio, mas como uma doação. Acreditar
indica disponibilidade. É isso! E se de um lado existem mãos
disponíveis, imagino que pode deitar-se (se quiser) sobre elas fazendo com que
pareçam estruturas, alicerces talvez...
Ainda sobre você, é complicado falar. Até gostaria, mas não
é uma abordagem tão parca assim e, além disso, o que consigo traduzir em
palavras são as informações mais simples. Saberia por exemplo responder a uma
ficha cadastral com dados básicos a seu respeito. O restante é complexo demais
para ser escrito ou descrito. É que há em você um poder diferente: um dialeto
só seu cuja tradução é impossível de se fazer. Entendo parte dele, mas não há
meios de transcrevê-lo. Até tento, dou uns passos pra trás para enxergar melhor
e vejo... vejo mais do que gostaria... processo todas as informações,
decodifico-as e aí rio tranquilamente, guardo o papel e a caneta, sem ira nem
frustrações.
Você não nasceu para ser escrita.
E só nós duas sabemos do barulho atrás da porta!
Por: Livia Queiroz