quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Rascunho

Por favor recolha as minhas flores. Aquelas que colhi enquanto as mãos estavam dadas e pode ir de uma vez!
Vá brincar de felicidade enquanto finge amar a quem não ama, e enquanto dá certo esse seu plano quase perfeito.
Vá fazer de fantoche quem você finge querer.
Procure nesses braços o abraço que você quer que seja meu.
Use a tática estúpida e tente transferir seu amor.
Feche os olhos e beije, como se o beijo fosse o meu. Abra os olhos e entristeça-se.
Vá brincar de sonhos com os sonhos que eram nossos e que por tão pouco não viraram realidade.
Faça de conta que é indiferente e tente convencer a si mesma das mentiras que você conta a noite na tentativa de selar sua dor.
Admita que jogou tudo fora, porque não sabe lutar...
Porque sua fraqueza te impede de ver o mundo coberto de possibilidades e desejos de vida feliz para realizar.
E eu te quis. Te quis tanto.
Por tanto tempo... Durante todos os dias...
Mas você prefere o fácil, ainda que não te faça feliz.
Abandone os meus segredos guardados em suas sete chaves.
Vá ser mulher pela metade, com meia vida e amor mal vivido.
Vá ser dessas de feridas mal curadas.
Pode ir no seu caminho esburacado, com seu coração tropeçando em escombros.
Pode ir, que a dança fiel dos dias me apresenta formas sublimes de nortear meu mundo (é o que eu ouso chamar de "ironia do destino").
Se eu tô junto é por inteiro.
Mas não avanço teus sinais. Só permita-me dizer que quanto mais o tempo passa, mais se corroi dentro de mim a proximidade do que poderia e deveria ter sido e de repente não foi.
Eu nem ando mais triste.
Meu coração se acalmou quando percebi que o que você me jogou como responsabilidade era na verdade o peso que você não sabia como carregar e que quando achou um motivo pra se livrar, me entregou e me puniu com o que eu tinha de mais sagrado e puro.
Não me dói mais, porque foi você quem jogou lama onde só havia um pouco de pó...
E amor quando cai na imundície passa a querer se esconder por vergonha.
Porque amor, se é de verdade, tem de ser límpido, caso contrário, melhor mesmo que caia na vala mais profunda até sua face ser definitivamente extinta.
Vá brincar de razão e se perca nas suas palavras carregadas da emoção de não saber o que dizer, porque quando me diz que abriu mão, eu escuto sua alma gritar por socorro (eu rio, e finjo ser surda).
Eu não te entendo mais, porque tudo tem limite e eu vou tirar um pouco de egoísmo da gaveta pra pensar no que, de fato, deve ser pensado, refeito, revisto, vivido, provado...
Entender, agora, apenas o que me couber no entendimento e retribuir da mesma forma o que me é dado.
Agora sei sim, que todo o barulho que você faz pra chamar a minha atenção é sua tentativa infantil de dizer "estou aqui, não quero ser esquecida", quando na verdade poderia apenas vir, sem dizer nada, me pegar pelo braço e levar onde quisesse.
Não sabes nada da fundura de meus sonhos abortados.
E também não sabes que existem por aí, pessoas especiais.
Nem sabe que o mundo vai além de você.
Eu morrerei logo mas até lá quero brincar de coisa nova e verdadeira, porque posso conviver com meu pouco futuro e posso me aproveitar até a última gota e o último resquício de vitalidade que me balançar.
Estou vazia de você. Como me sugeriu, aliás, como me ordenou.
Pode ir.
Vá brincar de falsa felicidade.
Enquanto isso eu vivo de verdade!


Por: Livia Queiroz