Lara pouco conversava, passava o dia inteiro deitada. Recebia as visitas dos colegas de trabalho, e alguns outros amigos, mas nenhum familiar havia aparecido, e ela parecia não se importar muito.
Ricardo e Silvia já eram suficientes, e a faziam se sentir muito bem, na medida do possível.
- Larinha, podíamos sair hoje – sugeriu Silvia.
- Sair? Assim?
- Assim como?
- Assim: CEGA!
- Que preconceito é esse Lara? O mundo tá cheio de deficientes visuais e eles não deixam de sair porque não enxergam. Muito pelo contrário, grande parte deles tem uma vida normal.
- Eu não sou como eles! – disse cabisbaixa
- É tão forte quanto!
- Não obrigada. Eu não quero sair, mas você deveria ir. Fica praticamente o tempo inteiro aqui comigo. Você tá de férias do trabalho e devia aproveitar. Ficar aqui é perda de tempo.
- Nunca mais diga isso! – respondeu com voz firme. – Não estou aqui por pena. Estou aqui por te amo e quero ficar ao seu lado, e vou ficar, à menos que você não queira.
- Eu não disse isso. Só acho que não vive mais a sua vida. Tem que sair, se distrair. Nem namorando você tá.
- Eu estou aqui por que quero estar, já disse. E eu vivo minha vida, sim. E caso não saiba, você também é parte de minha vida.
Lara engoliu seco. Sentiu vergonha de si mesma e de sua atitude. A amiga era quem a apoiava e ali estava ela, discutindo com Silvia sem sentido. Se exaltando à toa.
- Me desculpe – disse de cabeça baixa.
- Está tudo bem. – respondeu Silvia passando a mão no rosto de Lara.
- Tenho sido egoísta demais. Vivo no meu mundo e não me dou conta às vezes de que você está aí, ao meu lado. Fico o tempo inteiro falando de uma outra mulher, sem nem notar que posso estar te magoando. Faço apenas o que eu quero e você também só faz o que quero. Por favor, me desculpe.
- Larinha, não se preocupe com isso. Você não me magoou e nem me magoa. Somos amigas e você pode falar o que quiser comigo. Eu te amo como amiga também.
- Eu também. Não quero mesmo sair, mas vamos pedir uma pizza.
- Huuum. Boa idéia.
(CONTINUA...)