Ele estava lá, como deixaram: camisa azul marinho e calça jeans, uma bota de couro de um preto velho e desgastado, a bicicleta azul e suja caída entre suas pernas...
E o homem lá: M O R T O...
Ninguém sabe o por quê. O mundo ficara silencioso de repente, para todos os que estavam a observar aquele tempo de ida sem volta. O dia raiava e o sem-vida, continuava lá caído, de rosto grudado no chão e saindo de sua boca, uma enorme mancha de sangue que envolvera todo o contorno da cabeça como um travesseiro: o conforto do último vestígio de vida se esvaindo de um corpo.
Havia uma palidez no rosto de quem o via, uma espécie de cara-parada...
Eu percebi, ali, quando olhei o homem estirado, que o que me impressiona na morte não é a vida ir-se, mas sim o desuso do corpo, a utilidade nenhuma do que se define como ser humano.O que realmente impressiona na morte é o momento do estado “parado”, do jeito “duro”, da face sem expressão... Aquele homem ficou de repente com um “não” preso no olho semi-aberto que, penso eu, “será que esse olhar teve tempo de ver a cara de morte, à ponto de, se possível fosse, fazer um retrato falado?"
Assusta-me também a feição, e os sentimentos de piedade que sobrevoam em nuvem pelo ambiente, o caos silencioso que paralisa os desconhecidos, e a dor que chega em cada peito sem saber porque ali está...
Deixa-me curiosa essas impressões e expressões que o fim da vida tirada pinta em cada rosto personagem componente do cenário “vazio”: caricaturas fantasmagóricas testemunhas de um espelho...
Imagem : Google
Por: Livia Queiroz