sábado, 24 de novembro de 2012

Amontoados.


Casas.

Casinhas.

Amontoadas.

Pequenininhas.



Encaixadas sem novidades.

Dentro de uma:
Um João pede bis
Uma Maria quer passagem
Noutra:
Uma Ariadne nasce atriz
Irmão que foi, deixa saudade

E nas casinhas, meu Deus
Fico a pensar,
Será que há mesas,
Cortinas, Colchas
Lugar de brincar?

Será que o lado de lá 
o da cidade “feliz”
Sabe da mistura de cores
Que a sujeira não diz?

Todas dormem e acordam

Encaixadas por um triz

Todas cantam e combinam

Remontando o “chão de giz”



E o lado de lá meu Deus
Será que conhecem tijolo
sem reboco, sem gesso
sem degradê, sem textura
sem quadro, sem tela
sem mistura?


Será meu Deus que sonham as flores?

Será que esperam amores?



Há felicidade, que eu vi

Há moral e há bons costumes

Há voto do povo, há gente boa.


Mas será que nas noites

em que sonham seus sonhos

essas casinhas, meu Deus,

se amarrotam de esperança?

Ou será que, em seus sonhos

encaixados, já são as donas
da própria fé na vida, 
na imaculada existência?


Quisera saber,

quais certezas elas escondem

se sabem-se ser, ou estar

Se amontoadas como são

concatenam pensamento.


Quisera eu notar
algo além de seus silêncios
em quebra-cabeça.
Quisera eu ser alguma coisa

que elas ja são.

Para ampliar a imagem clique sobre ela.
Por: Livia Queiroz

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Dora


Dora chegou há quatro anos e em quatro horas já era a favorita. Em quatro dias já era a única. Em quatro semanas já era a "toda"... Monopolizara-me os desejos, os pensamentos, os olhares e os poemas.

Mas, numa manhã quente, antes de eu sair para o trabalho, Dora se foi. E hoje falo isso sem tanta tristeza. Era uns pés de mesa despregados que, por conta d'um movimento brusco, despencaram. E Dora se foi!
Dora foi, mas voltava sempre para o meu colo conforto e alento. Voltava porque ninguém te dava um poema e seu ego sentia fome de mim. Depois ia embora, a maldita ia embora levando os poemas, a respiração suspensa e o cinema mudo. Deixando cravada nas paredes da sala uma monotonia em meio tom.

Em quatro anos Dora ia e voltava e já não era mais a mesma e passara então a não merecer tanto. Pedia, nas entrelinhas, para ser ignorada, era a sua vingança: eu sofreria por não enxergá-la. Mas isso também passava.

Dora voltou, mais uma vez (a última, eu espero. Que ainda não to preparada)... Voltou trazendo esperança, o mundo voltou a sorrir, as estradas encurtaram e eu não estava mais à deriva. Dora chegou com promessas de umas palavras que nem seriam ditas, com uma secura esdrúxula e uma ampliação de sofrimentos. Decalquei na hora a volta atarrancada. Esperei por Dora e se tem algo que posso dizer sobre ela é que ela é sol e lua, noite e dia, branco e preto, e sem rotina nem programação (o que leva ao embaraço da percepção).

Dora é de uma espécie que fácil se reproduz e se reflete em qualquer espelho. Tem tido pensamentos vulgares e comportamento desregrado. Acho justo. Mas está perdida. À noite em sua cama às vezes sem pau, ela é só ego. Viaja de costas nos espaços que não possui. Não tem mais no corpo a "certeza mulher", só tem resquícios do que é lamentável, e alguns espermas sofridos.

Dora diz que me ama. Diz que também sofre. Mas isso é inútil diante de tanta covardia e de um pau que não tenho. Ela é presa fácil em qualquer armadilha recheada, e se eu contar o sabor e a textura do recheio, talvez ela se ofenda, porque acima de tudo, Dora é melhor que todo mundo e tem um pudor mentiroso que a mim não engana.
Ela acha que por mais que vá, sempre poderá voltar ( e talvez possa já que sabe o caminho e as artimanhas), mas os atalhos vão ficando diferentes. E as pegadas começam a chegar antes de serem feitas. Dora é previsível, mesmo quando luta para não ser e nas noites em que pensa em como eu estou, começa a fazer contas e analisar peso e contrapeso. E tanta análise assim cansa o enredo. Dora é toda subjetiva e não forma frase nem contexto, apenas passado doído e amor que não serve pra ser dela.


Por: Livia Queiroz

domingo, 4 de novembro de 2012

Epílogo sem nº

Ver seu nome em outra pessoa já não me gela mais o coração
Ver alguém que fez parte de nosso tempo já nem me faz lembrar tanto assim
Lembrar de você, de quem você é, do que você não é, das coisas que fez e das que não fez, ja não me é tão penoso.
E se me perguntam: "o que houve?", eu digo: "já passou, pra que mexer no que doeu por causa nenhuma?"

Te ver indo embora dando desculpa esfarrapada foi um rebuliço bom
Te ver discursando o quanto se importava comigo matou um pouco a fome de meu ego

E então lembrei, que quando te beijava, quando te tocava eu pensava: "quero isso tudo, porque um dia vai acabar"
E não é que acabou?

Olhar essa historinha desse ângulo é de uma perfeição incrível
Olhar pra isso hoje me faz interromper o pensamento do "se..."
Porque "se..." não é nem certeza de futuro, é garantia de "impossibilidade"

Eu gostaria de saber se você consegue dormir bem como eu consigo
Sem afronta, eu juro.

Em mim o que é engraçado agora é a luta se findando
A razão vai vencendo com bravo heroísmo e aí o bla bla bla de sua mesa de bar não tem mais efeito
Aquilo que você cantarola na roda de amigos dizendo: "Quando eu quiser ela volta", é só enredo.
É frase mal curada.

Ela não volta quando você quiser
Nem quando ela quiser
Ela pediu um tempo pra se revelar e se conhecer
E na batida suave fez uma coisa pra dizer "tchau, até mais"

Agora puxa o gatilho
Joga o dadinho
E paga pra ver
Uma mulher sem mágoas
E sem um pingo de lágrima
Nem boa vontade
Nem coragem
E com toda paciência do mundo
Pra dizer em alto e bom som:
"A festa começou faz tempo"