segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A sala de Retalhos

Olhava aquele lugar como se fosse o primeiro que vira em toda sua vida. E de fato o era. Embora tivesse crescido ali, mas acostumara-se a não reparar. Apenas vivia por lá e pronto!
E ponto.

Vestia-se de si mesmo todos os dias, mas naquele dia não teve escolha, aquela sala o obrigara a se despir. Não sabia se fora pelo novo desejo de partir, ou se fora pelo velho desejo de ficar. Pôs-se a catar os pedaços que não serviam e costurar meio despretenciosamente e sem a menor noção do que aconteceria...
Apenas selecionava o que a alma jogaria no lixo e costurava um pedaço no outro que também não haveria de prestar. Demorou quase a vida inteira para conseguir...
Por fim construiu-se e destruiu-se ao ver um espelho cru, feio e em pedaços que ele mesmo emendou...
O formato turvo da costura, as cores mórbidas dos retalhos, o efeito sombrio que tudo aquilo o causara, inundou aquela sala de terror e o seu peito de desespero.
Catou também o desespero e emendou na costura.
Não faria mais nada dali em diante.
Tornara-se inerte!


(Por: Livia Queiroz)