sexta-feira, 13 de março de 2009

Contando solidões


Abro as janelas todos os dias para o Sol rasgar minha vida e é com aquele desprazerzinho corrosivo que me vem a memória uns pedaços picados de sonhos interrompidos.

Parece-me meio piegas falar de sonhos e lembranças quando sei que a vida é muito mais real, mais dura até. Mas eu tenho um puta desejo de ver as coisas acontecendo no exato momento em que meu sorriso desponta, só que o destino, o azar ou sei lá o quê, faz tudo girar quando menos espero.

Estou mesmo é praticando o desapego e o desencanto que essa coisa de “ser”, “estar”, “querer”, “ansiar”, é complexa demais pra minha mentezinha fodida.

A dor do outro já não me assusta. A minha também não.

Só sei que é ruim quando começa a chover no meio da noite e se tem apenas almofadas para abraçar. Ou umas doses a mais de conhaque e ninguém pra te acompanhar ou carregar sua embriaguez até a cama.

Já tive medo da solidão, confesso!

Hoje em dia, não tenho mais. Ser só é ruim, mas também é ruim demais dor de dente, unha encravada, um sexto sentido que me diz que você não está só agora.

Lance mais louco esse de “querer o outro”, tudo acontece quando não se espera e ainda assim percebemos a troca de energia, a resposta do corpo, os fluidos, cheiros... É rápido. Bem rápido!

E é bem rápido também quando toda a louça se quebra no chão e nas paredes da cozinha ao som de palavras insanas.

Umas roupas na mala e “depois passo pra buscar o resto”. A porta se fecha. E ficam apenas as gotas pingando na pia do banheiro. Fazer o que se as mãos que andavam juntas agora viram-se em direções contrárias?

O sono acaba. A cama cresce. A dor fica grande demais. O corpo mede o que a alma pede.

E pela primeira vez na vida, tem-se a certeza de que não há certezas.

Daí pra frente, não há mais nada que realmente se garanta...


(Por: Livia Queiroz)