...Abriu a porta do quarto e ficou parada, a observar a outra mulher sentada sobre o corpo nu e de repente tão nojento de seu homem. Ficou apenas a observar sem nada dizer. Talvez estivesse pensando no que diria entre o barulho de corpos suados se esfregando e os gemidos da mulher que nunca mais saíram de sua cabeça. Eles não a viram entrar, não a viram como uma espectadora, e não perceberam também o objeto maléfico que Ela tirara da bolsa. A lâmina afiada, presa num suporte de plástico, fez o primeiro risco nas costas da mulher, depois outro e mais outro. Começaram as lutas de mãos e pernas tentando conter os cortes que certamente não parariam. Quando cansou de usar o estilete, correu até a cozinha deixando os dois corpos cansados, nus e ensangüentados sobre a cama, mas ainda vivos, pegou uma faca, a maior de todas, e voltou para terminar. Ao vê-la entrar assim, o marido tentou explicar, a mulher tentou suplicar, mas o seu mundo estava calmo e silencioso, sorria para o amor de sua vida, sorria para a outra ali amedrontada, sorria para si mesma e cavou os corpos com toda a violência e dor do mundo. Dilacerou sua dor, acabou com tudo.
Ela mesma ligou pra policia. Ela mesma confessou tudo. Sorrindo. Ela recusou defesa. Ela era inocente. Sempre foi. É que nascera pra fugir, mas só se foge quando se está presa. Do seu vira-lata, ela não teve mais notícia.”
Agora ela conseguiu fugir. Aprendera tudo sobre a vida(tudo o que lhe era necessário), e só agora percebeu que viver em constante fuga é a dose certa que precisa para existir e insistir.
Do Vira-lata, ela nunca mais teve notícias, mesmo!
(Por: Livia Queiroz)