quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Ascendente Câncer ( Parte 14 )

O que se seguiu foi o ritual macabro de resolver as “coisas” e avisar às pessoas. Silvia tirou as últimas forças que tinha e assumiu o controle de tudo, afinal, se já tinha chegado até ali, não era naquele momento que ia enfraquecer. Os amigos de Lara, bem como a mãe, foram avisados. A última não compareceu nem ao velório nem ao enterro e Silvia achava melhor assim, por que Lara nunca se mostrou disposta a perdoá-la.

Os dias que se seguiram após a morte de Lara foram pesados. O céu ficara nublado e Silvia precisou de muita força para levantar todos os dias. Resolvera sair do apartamento de Lara e voltar dali há alguns dias para arrumar tudo, enquanto pensava num jeito de contatar Agnes, sem que ela desse um ataque, para saber o que seria feito com as coisas e com o apartamento de Lara.

Uma semana depois, Silvia já voltara ao trabalho, e embora ainda abatida, sabia que tinha de continuar. E lembrava-se do pedido de Lara para que tentasse a felicidade.

Naquela quarta-feira, saiu do trabalho e foi até o apartamento de Lara. Precisava colocar as coisas em ordem, arrumar as roupas, os documentos e tudo o mais que precisasse...

Girou a chave na fechadura e por um instante sua respiração ficou suspensa, o coração acelerou e um soluço doído povoou o ambiente quando ela abriu a porta. Apoiou-se na parede e seguiu para o sofá, do outro lado da sala, sentou e ficou até se acalmar.

Fato é que não lhe agradava em nada a idéia de ter de remexer as coisas de Lara e se desfazer de quase tudo.

Começou pelas peças de roupa, e em meio ao choro baixinho, foi colocando uma a uma na mala roxa que Lara adorava. As roupas que não couberam na primeira mala, foram para a segunda e quando esta já estava cheia também, Silvia parou de arrumar. Deixou as que restaram lá, iria pensar nelas depois.

Encontrou no canto do armário uma caixinha marrom decorada com flores amarelas e fita dourada. Por um instante hesitou, mas por fim abriu.

Dentro da caixa havia fotos de Lara, bilhetes, cartões, até conchinhas que ela colecionara um dia... No fundo da caixa um envelope azul marinho, escrito com tinta prateada “Natália”.
O celular de Silvia tocou nesse momento, e ela largou a caixa e voltou para a sala:
- Alô.
- Oi Silvia. Como você está? – perguntou Ricardo.
- Estou bem, na medida do possível. Vim aqui no apartamento de Lara arrumar as coisas dela e... – não conteve as lágrimas.
- Calma. Você quer que eu vá pra aí?
- Não se incomode. Eu me viro por aqui, é que ainda é muito difícil olhar as coisinhas dela e saber que ela...
- Não é incômodo. Fique onde está. Eu já chego aí.
- Tudo bem.

Silvia desligou o celular e voltou ao quarto, para a caixa, para o envelope... Sentiu curiosidade, quis ler, mas lembrou-se de repente do olhar de Lara quando reprovava alguma atitude sua. Guardou tudo dentro da caixa novamente, e a levou para a sala colocando-a sobre a mesinha de centro. Em sua cabeça a dúvida: contatar ou não Natália?

Ricardo chegou com semblante preocupado, encontrou Silvia ainda chorosa, embora mais calma. Sentaram-se no sofá e conversaram um pouco, lembraram de Larinha com uma saudade cheia de amor.
- Boa garota – falou Ricardo com a voz se arrastando.
- É.
- Que caixa é essa? – perguntou, após notar a presença daquela caixa sobre a mesinha à sua frente.
- Achei no armário quando tava arrumando. Tem umas fotos, uns bilhetes e um envelope que parece conter uma carta dentro. Não sei direito, não abri.
- Por que não?
- Porque é pra Natália.
- Eu posso ver a caixa?
- Claro.

Ricardo viu todo o conteúdo da tal caixa, e achou também o envelope onde havia o nome de Natália escrito.
- Você vai entregar? – perguntou curioso
- O que acha?
- Acho que essa carta foi feita pra ser entregue e lida.
- Não sei como vou fazer isso.
- Eu sei onde Natália mora. Posso levar se você quiser...
- Ótimo, pode levar então – disse Silvia se levantando – vou fazer um suco pra gente.
- Não precisa. Eu vou levar agora.
- Tudo bem – disse desapontada – Leve a caixa e tudo o que está aí dentro. Acho que ela queria dar tudo isso aí a Natália.
- Tem certeza?

- Não. Mas leve assim mesmo!


POR: LIVIA QUEIROZ

(CONTINUA...)