- Quem é?
- Oi Natália. Você não me conhece. Sou Ricardo, psicólogo e amigo de Lara, gostaria de falar...
- Não tenho nada pra conversar sobre Lara, e...
- Calma. Gostaria de falar com você. Deixe-me subir ou então desça até aqui, tanto faz. É importante. Tenho uma coisa que Lara gostaria de te entregar.
- Não. Obrigada!
- Natália, por favor.
- Estou muito ocupada.
- Não vou tomar muito de seu tempo. Cinco minutos, eu prometo.
- Tudo bem. Suba. – disse a contragosto, mas por algum motivo não conseguiu dizer não.
Ricardo subia o elevador abraçado à caixa, e imaginando se Lara estava feliz com isso, afinal, era tudo o que mais queria: falar com Natália, e agora falaria, ainda que fosse através de uma simples carta.
- Oi, muito prazer Natália. Estive uma vez aqui com Lara.
- É eu sei.
- Como sabe? – perguntou percebendo que Lara tinha razão quando afirmou que Natália estava em casa e não a quisera receber – Seu namorado falou apenas com Lara e disse que você não estava.
- Você disse que seria breve. – desconversou – O que quer?
- Claro. Vim te entregar isso. – disse estendendo a caixa.
- Diga a Lara que não me agrada a idéia de ela ficar me mandando presentes. – falou, pegando a caixa e se mostrando contrariada.
- Espero que goste. – e levantando-se Ricardo foi seguindo em direção à porta.
- O que Lara pretende com isso? – falou indignada, fazendo Ricardo se virar e sentar novamente à sua frente.
- Ela queria que você soubesse tudo o que ela queria dizer...
- Ela me disse o que queria!
- Ela disse coisas num momento de raiva. Coisas das quais se arrependeu amargamente.
- Sei...
- Fiz o que vim fazer. Vou indo, você está ocupada.
- Onde ela está? No seu carro? Peça pra que ela suba.
- Não. Ela não está lá embaixo.
- Avise a ela que passo por lá amanhã.
- Natália – disse Ricardo com voz serena – acontece que Lara estava muito doente.
- Como? Vocês estiveram aqui e ela estava bem!
- Como sabe? Nem quis nos receber... Fato é que Lara estava muito mal.
- Tava doente de que?
- Câncer.
- Hã? – assustou-se. – Isso não faz sentido. Ela veio aqui...
- Ela não estava bem, mesmo. Pra te falar a verdade eu vim com ela porque ela já havia perdido a visão, e aquela foi a primeira vez que ela saiu de casa depois que isso aconteceu.
- Não posso acreditar. Meu Deus! – disse sem segurar as lágrimas que revelavam o quanto ainda amava a sua Larinha – Em que hospital ela está? Me leve lá agora, por favor.
- Natália, eu sinto muito.
- O que? O que você sente? – gritou descontrolada, ao perceber os olhos de Ricardo marejarem.
- Lara faleceu há duas semanas.
Natália estacou o choro , abafou a voz com uma das mãos e ficou de olhos esbugalhados olhando pra Ricardo, até que perguntou num misto de dor e raiva:
- O que você está dizendo?
- Você entendeu o que quis dizer. Lara faleceu por conta de um tumor no cérebro. – complementou.
Natália não conseguia raciocinar direito. Chorara copiosamente, Ricardo pegou água e deu-lhe para que ela se acalmasse, entre uma lágrima e outra ela dizia:
- Por que vocês não me avisaram? Por quê?
- Não sabíamos o que fazer...
- Santo Deus! Meu bebê... Você levou meu anjo...
Natália estava desnorteada e nada que Ricardo dissesse amenizaria a dor que sentia naquele momento. Quando ela por fim se acalmou, ele sentiu que já devia ir.
- Eu preciso ir. Tá aqui meu telefone – falou enquanto colocava o cartão sobre a mesa de centro. – Se precisar de alguma coisa me ligue...
- Obrigada – sussurrou Natália, sem forças nem para se levantar e acompanhá-lo até a porta.
POR: LIVIA QUEIROZ