Lara ficou internada por alguns dias, e durante todo esse tempo o mal estar de Natália perdurou, ela chegou a ir ao médico, fez alguns exames, mas o problema não era físico. Ficou em repouso, cuidou da alimentação e dias depois estava bem. Havia uma conexão desconhecida entre as duas e esta fazia com que uma “sentisse” a outra. Parecia estranho, mas desde que Natália começou a se sentir mal, passara a pensar em Lara com mais intensidade, mas fazia questão de afastar de si aquele pensamento.
Já em casa, Lara pedia com todas as forças que ainda possuía para que Natália resolvesse aparecer, e para que quando o fizesse ainda tivesse tempo de falar o que tanto desejava à ex. Naquelas condições Lara não sabia mais o que podia acontecer, nem quais seriam as outras limitações que lhe acometeriam. Não pedia à Deus que lhe tirasse as dores, que parasse os vômitos, que a curasse milagrosamente do maldito tumor. A única coisa que queria e que pedia era para ver Natália, mas à cada dia que o fazia, essa possibilidade parecia mais distante.
Silvia via tudo aquilo com o coração sangrando, não sabia como ajudar Lara, e mesmo que quisesse procurar Natália, sabia que não seria recebida e caso fosse, poderia trazer pra Lara um sofrimento maior do que o que ela já estava mergulhada. O coração não estancava de jeito algum e parecia que conversar já não adiantava. Por esse motivo Silvia resolveu entrar em contato com Dr. Ricardo que no mesmo dia arrumou uma hora em sua agenda e foi à casa de Lara.
- Ricardo! – surpreendeu-se Lara, abraçando Ricardo que se ajoelhara ao lado da cama – Que surpresa boa!
- Desculpe não ter vindo antes. – disse o psicólogo enquanto se levantava.
- Vem, senta aqui. – disse Lara batendo com a palma da mão sobre a cama.
- Me diga, como você está? – indagou, logo após se acomodar.
- Ah, eu to me sentindo bem hoje. Fiquei internada, mas já era de se esperar.
- É, eu soube.
- Tem dias que me sinto melhor, mas tem dias que...
- Entendo.
- Sabia que Natália não veio?
- Não? – fingiu não saber – Poxa, que pena! Mas ela disse que viria?
- Disse. Mas parece que ela nunca pode, ou nunca quer.
- Larinha – disse enquanto segurava sua mão – já é hora de concentrar suas forças em coisas mais importantes.
- Isso é importante pra mim! – disse Lara, puxando a mão, tamanha a decepção com a incompreensão de Ricardo.
- Eu imagino que seja. Mas, porque não priorizar as coisas em sua vida?
- Escute Ricardo, eu soube desse maldito tumor, eu aceitei que não tinha cura, eu não maldisse à Deus, não mendiguei nada. Ele sabe o quão tem sido difícil. Eu não tenho mais nada a perder, a única coisa que eu quero é vê-la e falar com ela.
- Mas talvez ela não queira.
- Eu sei.
- Por que não conta pra ela?
- Pra ela vir aqui por pena?
- Se ela te ama, ela não virá por pena. E se por acaso vier, você vai saber e vai repensar se vale à pena desprender tanta energia e amar alguém que nutre pena por você.
- Não vou contar.
- Você é quem sabe. Mas cuidado...
- Não entendo.
- Você tá obcecada para falar com Natália que não nota quem está ao seu lado.
- Silvia te ligou e contou o que não devia?
- Não. Silvia me ligou e me contou seu estado, eu me preocupei e aqui estou, mas percebo que ela quer te ajudar. Por isso me procurou. Ninguém sabe mais o que fazer pra te ajudar quanto à isso, Lara. Eu não posso simplesmente ir atrás de Natália, Silvia muito menos. E você, a única que pode procurá-la, contar o motivo pelo qual quer vê-la não o faz.
- Você não entende... Não quero falar disso com ela.
- Já passou pela sua cabeça que ela não quer vir porque acha que vai perder tempo? Porque acha que você vai querer reatar ou algo do tipo?
- Já.
- Eu quero te ajudar Lara. Porque não quero te ver com esse coraçãozinho triste, você tem muito mais com o que se preocupar pra ficar sofrendo à toa. E se você me autorizar eu procuro Natália, converso com ela e...
- Nem pense nisso – gritou Lara, estava ficando nervosa e as lágrimas caiam sem controle.
- Tudo bem. Vem aqui – disse com ternura, puxando-a para si e fazendo com que ela recostasse a cabeça em seu peito até que serenasse novamente.
- Estou me sentindo cansada. – disse Lara limpando o rosto.
- Vou embora, e deixar você descansar. Mas Lara, se mudar de idéia me ligue. E não esqueça que pode contar comigo. – disse dando-lhe um beijo estalado na testa.
- Obrigada. Desculpe-me por eu ter me exaltado.
- Não se desculpe. E fique bem tá? Ah, tive uma idéia: escreva.
- O que?
- Tudo o que você pensar, desejar, sentir. Apenas escreva. Pode ser bom.
- Vou pensar. – disse, com um riso meio murcho enquanto observava Ricardo a sair pela porta.
POR: LIVIA QUEIROZ
(CONTINUA...)