Vou explicar como eu gosto!
Explicar nos pormenores para que não se façam necessárias releituras, reinvenções ou novas definições.
As minhas palavras, as que escolho e uso com o cuidado de quem toca em porcelana, não são armas e portanto não devem ferir, não precisam magoar e nem atingir alvo algum. Se a minha alma não se explode é graças à palavra que lava o caminho sujo ou embeleza a característica das flores. Eu escrevo porque senão eu sufoco. Implodo aos poucos até a morte. E à morte eu não me quero por enquanto.
Os pesos que eu carrego, as dores que não suporto, os medos, as vergonhas e arrependimentos fazem parte da minha composição aflita. Eu sigo na inquietude do elo mal firmado e aproveito uma ou outra coisa aqui e ali, misturando meus métodos aos meus fracassos.
A minha integridade, a minha dignidade, eu não preciso substituir por explicações nem gastar espaço visto que é o que julgo ser de menor importância falar até porque – penso eu – quem tem reconhece e quem não tem nunca entenderá.
Eu não me escondo. Mas, como um animal ferido, eu reajo à dor com brutalidade e esta é diretamente proporcional à intensidade do sofrimento. Depois que passa, olho os estragos e sigo em frente. Não preciso de conexões com o que não me agrega o que é positivo.
Eu não sou poeta. Por um lapso do ar que passa eu capto o que preciso naquele instante. Não sei nada sobre isso de aceitar tudo, de perdoar tudo, de superar tudo só por causa do amor, porque, caso não me falhe a memória, não seria o amor um bálsamo para todo o sofrimento? Então não é justo ter que conhecê-lo em formas distorcidas.
Eu quero as coisas corretas. Eu entrei e saí disso tudo com a mesma dignidade. E quando olho as marcas, penso que não passou de equívoco e que talvez, me faltou mais da razão. Os pensamentos não doem mais. Mudar de rumo é importante quando você sabe aonde quer chegar. Manter o foco, o equilíbrio, estreitar o raciocínio são estratégias que uso para que não pareçam tão árduas as experiências.
Isso não quer dizer que eu não tenha coração. Não quer dizer que a minha frieza anula meus sentimentos mais sublimes. E também não significa que eu me enxergue melhor do que quem quer que seja. O que quero explicitar é que pra mim não importam os motivos, não importam as razões, as confusões, as decepções, as armações, os momentos, as crises... Nada disso estabelece uma idéia plausível para reconstruir a necessidade de restabelecer qualquer tipo de contato.
O que em mim é mais do que gritante é o que bebo todos os dias quando acordo: doses exatas de amor próprio. E é isso que me mantem firme, é isso que acalenta meu coração que ainda remendado se confunde às vezes e não sabe se já passou a dor toda.
Mas é assim que gosto: quando estou caída eu me levanto só, porque se o tombo foi só meu, nada mais justo do que eu suportar o peso de meu próprio corpo.
E é assim que há de ser: um tempo meu inundado de prioridades e possibilidades; um espaço meu construído e estruturado para aceitar, manter e servir de abrigo apenas à pessoas que entendam a importância do conforto da alma, da paz interior, do acalento, do respeito... pessoas que entendam que o pó debaixo dos móveis em algum momento se acumula e se torna quase impossível não notar (é necessário entender da limpeza de mundo de dentro e de fora)... E pessoas que entendam acima de qualquer coisa que o caráter, a lealdade aos princípios, o zelo pelos sonhos e o amor vivido em verdade são alicerces para futuro algum botar defeito.
(Por: Livia Queiroz)