domingo, 15 de abril de 2012

Poema-Vergonha

Pobres meninos-homens,
Vestidos em seus retalhos
de pouca carne
Excomungados com seus canivetes
abertos e fechados
ensanguentados e enferrujados.

Coitados, pobres coitados
coitados e pobres
usados ou não.

Donos de nossa repulsa,
da minha, da sua.
Cavalheiros de nosso preconceito
Pré nojo, pré medo, pré asco
Pobres coitados maculados
Doados à não-educação.

Meninos moleques
de rasteira pronta
de malandragem fervida.
Donos de minha alergia
De toda a chaga do mundo
Viventes da linha de fora
Sobreviventes de toda sarjeta
Muitos, pequenos, indesejáveis.

Meninos coitados
sujos, por dentro, por fora,
por baixo das unhas, por dentro dos pêlos.
Sem escapulário.
Sem escapatória.
Pivetes que me ilustram a escrita.
O pesadelo e só.
Meninos que uso a distância,
Uso em letras e desuso em ações.
Vergonha de poema!

Coitadas crianças,
pobres dentes estragados,
pobres coitados
solicitados por mim à distância.

Pobres quase homens
que para mim podem morrer,
caso queiram.
Já que também matam
se quiserem.

Homenzinhos sem nome
Sem carteira de identidade
De rostos iguais e digitais fechadas
Pobres, pobres coitados!

Eles não cabem em minha oração.



(Por: Livia Queiroz)